Imperialismo perde espaço na América do Sul

A cúpula extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – realizada em Santiago no dia 15 para abordar a grave crise na Bolívia – foi uma iniciativa importante para deliberar sobre um problema político na região sem qualquer participação dos Estados Unidos. O imperialismo estadunidense sempre interferiu, abertamente ou não, em qualquer conflito ao sul de seu território. Agora, mesmo estando diretamente envolvido na crise – acusado de fomentar a violência da direita contra o governo de Evo Morales – o governo Bush não foi sequer convidado para discutir o assunto.


 


Pela primeira vez na história sul-americana, os países da região decidem resolver seus problemas, afirmou Evo Morales, ao término da ''reunião de urgência'' convocada pela governante chilena, Michelle Bachelet, atual presidente da Unasul. Para Morales, a Unasul ''agora não é só uma sigla'', pois ''se mobiliza de maneira digna para resolver problemas políticos, econômicos e sociais'' e constitui um fórum de debate ''mais sincero para entender nossos problemas''. Em sua opinião, a entidade se fortalece como um exemplo de organização ''para defender a democracia, a igualdade, os direitos humanos e os presidentes legitimamente eleitos por seus povos''. Para ele, ''já não temos que esperar que um patrão venha do norte para resolver os problemas regionais'', como ocorria antes. ''Estamos demonstrando que somos capazes de buscar soluções, criamos uma fórmula de solução'', concordou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que reiterou que mantém sua decisão de apoiar militarmente o governo de Morales caso seja necessário.


 


O resultado da reunião foi o forte respaldo dos líderes da Unasul ao governo boliviano, contra a crise deflagrada pela oligarquia. A declaração lida por Bachelet após quase seis horas de trabalho enfatiza o total reconhecimento à legitimidade do governo de Morales e adverte que os governos da região não vão tolerar qualquer tentativa de golpe de Estado. A presidente da Unasul lembrou que o tratado constitutivo deste bloco ''consagra os princípios do irrestrito respeito à soberania, à não ingerência em assuntos internos, à integridade e inviolabilidade territorial, à democracia e suas instituições, e aos direitos humanos''. ''Depois desta reunião – extensa, mas muito frutífera – e destes acordos, a Unasul ficou mais consolidada''.


 


A Unasul decidiu criar uma comissão que será coordenada pelo Chile,  aberta à participação de todos os membros do bloco ''para acompanhar os trabalhos de uma mesa de diálogo conduzida pelo legítimo governo da Bolívia''. Outro sinal de isolamento da influência do imperialismo estadunidense é o fato de, apesar de a reunião ter contado com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza, a declaração não contém qualquer menção à OEA, organismo multilateral com sede em Washington e do qual os Estados Unidos fazem parte.


 


Na América do Sul, onde a integração continental avançou com a eleição de governos nacionalistas e progressistas, a influência política e militar estadunidense parece cada vez mais confinada em território colombiano, onde o presidente direitista Álvaro Uribe se sustenta graças ao apoio bélico e financeiro vindo de Washigton: nos demais países da região, predomina o rechaço à ingerência norte-americana. E não só a ela. Crescem também as manifestações de repúdio aos resquícios de intromissão européia, sobretudo da Espanha, que ainda tenta, sem muito sucesso, influenciar política e economicamente na região. O ''cala-boca'' do rei Juan Carlos dirigido a Chávez durante a última Cúpula Ibero Americana foi o último soluço de destempero e arrogância de uma monarquia caduca que já não apita mais nada em terras latino-americanas.


 


Agora são os governantes e povos sul-americanos, cada vez mais unidos e solidários, quem mandam um recado claro para os países ricos, em especial para os Estados Unidos: cuidem de seus problemas; que dos nossos, cuidamos nós.