Em São Paulo, experimentos do pós-2008

A cidade de São Paulo tende a jogar um peso nacional nas eleições municipais de outubro, e não apenas por ser a mais populosa e mais rica do país. Fervem no laboratório paulistano os experimentos do que poderá ser a política brasileira no pós-2008, seja no campo de apoio ao governo Lula ou na oposição.
 


A oposição aparece em São Paulo cindida em duas candidaturas – a do ex-governador Geraldo Alckmin pelo PSDB e a do atual prefeito Gilberto Kassab pelo DEM. Uma primeira leitura enxergaria aí uma disputa clássica, entre a velha direita personificada pelo ex-PFL e a nova direita tucana. Porém o cenário concreto é bem mais complexo, já que o padrinho e grande eleitor de Kassab é o governador tucano José Serra, como todos sabem embora ele não o confesse
 


Na semana passada a ala Serra-Kassab marcou um tento, ao obter o apoio do PMDB local, chefiado pelo ex-governador Orestes Quércia, à reeleição do último e à pretensão presidencial do primeiro. Chegou a acreditar que isso seria um xeque-mate na candidatura Alckmin. Conseguiu acelerar um conjunto de movimentos políticos, com vistas a 2008 e 2010, mas subestimou a persistência do adversário interno.
 


Alckmin revidou nesta segunda-feira (28), com um ato público do chamado Movimento Tucano Pró-São Paulo. Pressiona para que o Diretório Municipal do PSDB delibere, dentro de uma semana (dia 5), pela candidatura própria e não a coligação com o DEM. ''A grande data será o dia 5 de maio'', afirma Alckmin. A cisão paulistana está conectada com outra, entre os governadores e presidenciáveis tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
 


No campo pró-governo Lula, a ministra e ex-prefeita Marta Suplicy, declarou-se ''muito propensa'' a ser candidata, por sinal no dia seguinte ao anúncio de Quércia. Marta aparece nas pesquisas em empate técnico com Alckmin e bem à frente de  Kassab. Ela declarou-se ''profundamente tocada'' após o apelo ''muito forte'' que recebeu, mas este até agora veio apenas de seu partido, o PT.
 


Se o PMDB de Quércia, optou por Kassab, o Bloco de Esquerda, também da base de Lula, lançou nesta segunda-feira sua carta-compromisso Por uma São Paulo melhor, com as assinaturas de oito partidos (PSB, PDT, PCdoB, PV, PHS, PRB, PSC e PSL) e a decisão de lançar um candidato de unidade à Prefeitura. Entre os nomes possíveis estão os deputados Aldo Rebelo (PCdoB), Luiza Erundina (PSB) e Paulinho da Força (PDT).
 


A carta-compromisso questiona um ''cabo-de-guerra'' eleitoral, polarizado entre PSDB e PT, que ''empobreceu o debate político e transformou as eleições em simples escolhas de nomes, onde, o que menos importa, é o debate sobre o futuro do nosso município”. Procura dar o exemplo, com um texto contendo propostas substantivas para a cidade.
 


Mas o Bloco de Esquerda (que a mídia por opção editorial decidiu chamar de ''bloquinho'') também sente que o debate eleitoral se acelerou. Segundo Aldo, pretende anunciar seu candidato até o fim de maio. O deputado assinala que, depois da opção do PMDB, o interesse do PT por um entendimento com o Bloco ''passou a ser mais forte''. Descarta, porém, uma coligação com o PT no primeiro turno, a não ser ''se a Marta resolver não ser candidata'' e a sigla da esquerda apoiar o Bloco.
 


Caso esses experimentos paulistanos vinguem, a arena da política brasileira sofrerá uma redefinição de proporções consideráveis. Os blocos pró e anti-Lula serão mantidos, porém com definição mais explícita dos seus distintos componentes.