Eleitorado teflon, onde denúncias não colam

A mídia e a oposição neoliberal bem que gostariam, mas a eleição deste ano não será uma repetição do que ocorreu em 2006, quando Lula disputou seu segundo mandato presidencial. Naquele ano, a apresentação na televisão de uma pilha de dinheiro conseguiu levar a disputa para o segundo turno. De acordo com aquela denúncia, era dinheiro que seria usado na compra de um dossiê contra o tucano José Serra, que era candidato ao governo de São Paulo.

Mas seu êxito fugaz teve um resultado inusitado que já dava uma indicação da reação do eleitorado contra denúncias tão estapafúrdias. No segundo turno, Lula aumentou a votação dos 46,6 milhões do primeiro turno para 58,3 milhões: um aumento de 25%. E o tucano Geraldo Alckmin amargou uma queda inédita, perdendo eleitores que o haviam escolhido na votação anterior: passou dos 39,9 milhões para 37,5 milhões, um recuo de 7%.

Aquele episódio comporta uma lição que o elitismo e o conservadorismo dos tucanos não registrou. A quinta eleição presidencial consecutiva desde a redemocratização revelou que algo havia mudado. Foram pleitos em que o eleitor fez sua longa experiência política pedagógica. Elegeu Fernando Collor de Mello em 1989, e pouco depois saiu às ruas para afastá-lo de um cargo mal exercido. Em 1994, elegeu Fernando Henrique Cardoso, que foi saudado nas ruas – quando candidato – por eleitores que acenavam para ele com notas de um real. FHC atribuiu erradamente aquele gesto à “modernidade” neoliberal que anunciava. Não era. Aquelas notas eram flâmulas do desejo de mudança que o povo queria e esperava de um novo governo que, contrastando com o passado recente, tinha a fama de “honesto”. Aquela onda seguiu até a reeleição tucana, em 1998, mas esvaiu-se e se transformou em frustração logo depois da abertura das urnas, quando o presidente reeleito passou recibo de sua traição nacional e impôs um ajuste neoliberal ainda mais radical, que quebrou o país, generalizou o desemprego e empobreceu os trabalhadores.

A eleição de Lula em 2002 representou a correção do rumo errático e perverso representado pelos tucanos. Significou a abertura de uma nova etapa na história republicana e também de um novo avanço na compreensão política manifestada pelo povo.

Os tucanos ainda alimentavam a ilusão de que um mandato para Lula seria suficiente, e eles voltariam em seguida. Mas as mudanças iniciadas em 2003 representaram, para o conservadorismo neoliberal, a abertura da ladeira rumo ao abismo. Toda a campanha contra o Lula e seu governo, que marcou os anos de 2005 e 2006, e que não refluiu ao longo do segundo mandato, tentou ter o sentido de uma reação conservadora contra os novos rumos, democráticos e nacionalistas, que o país passou a trilhar. O tripé da propaganda da direita foi a crença na eficácia das denúncias, na credulidade do eleitor e no impacto de suas denúncias.

Foi um engano cuja profundidade é revelada pelas pesquisas. Em 2010 há uma “onda Dilma” e uma “onda vermelha” que poderão resolver a sucessão de Lula já no primeiro turno e, além disso, renovar em profundidade o Congresso Nacional, levando a ele uma maioria de deputados federais e senadores comprometidos com o programa de mudanças que vem sendo aplicado desde 2003.

Os tucanos cometeram o erro fatal de acreditar que o eleitorado, passadas todas aquelas experiências, não mudou. Ele mudou, como aponta Clésio Andrade, presidente Confederação Nacional dos Transportes (CNT). O eleitor não aceita mais denúncias inconsistentes. “A sociedade brasileira evoluiu muito e as pessoas hoje têm muita cautela com as denúncias”, diz ele. Por isso, acusações inconsistentes aumentam a rejeição dos candidatos que usam esse tipo de recurso enganador em suas campanhas.

O retrato da nova situação pode ser visto no desempenho de Serra e Dilma. Enquanto Serra amarga uma rejeição de 41%, Dilma está no patamar normal de 29%, um resultado que decorre da forma como ambos os candidatos conduzem suas campanhas, sugere Clésio Andrade.Os ataques feitos pelo candidato da oposição, José Serra, sem dúvida aumentam sua rejeição “por não serem considerados consistentes e verdadeiros” pelos eleitores, disse.

A eleição deste ano vai confirmar e aprofundar o rumo das mudanças que venceu em 2002 e foi reafirmado em 2006. Na mídia, o presidente Lula já foi apelidado de “presidente teflon” em quem nada colava, referindo-se às campanhas caluniosas dos últimos oito anos. Com a eleição atual a mídia terá que se confrontar com o “eleitor teflon”, refratário às mentiras dos candidatos da direita.