Eleição na Câmara: Bolsonaro vence, mas oposição se amplia

Deputados federais realizam sessão histórica da Câmara l Foto: Cleia Viana/ Câmara dos Deputados

A vitória, por larga margem, do deputado Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara dos Deputados, ostensivamente apoiado pelo Palácio do Planalto, inegavelmente, dá um folego ao presidente Bolsonaro, que se vê, ao menos no curto prazo, coberto por uma muralha de proteção. Contudo, a oposição mesmo tendo perdido essa disputa, se ampliou a partir da candidatura de Baleia Rossi que concorreu pela Frente Câmara Livre, composta por uma dezena de legendas: de direita, centro-direita, centro-esquerda e esquerda.

Diante da perda de popularidade, do agravamento da pandemia de Covid-19, do crescimento do desemprego, da fome e da miséria e de mais vozes para além da esquerda vocalizando o apoio ao impeachment, o Palácio do Planalto entendeu que o confronto pela presidência da Câmara dos Deputados, mais que uma batalha se tratava de uma guerra.

Assim, os agentes políticos do governo federal operaram, conforme documentado na imprensa, um balcão de barganhas por votos que abarcou bilhões de reais do orçamento federal em forma de emendas de todo naipe, cargos no governo e promessa de uma réstia de ministérios.

Desencadeou-se um rolo compressor para solapar, a qualquer preço, a Frente Câmara Livre, desidratar a candidatura de Baleia Rossi, além de um ataque cerrado contra ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Para presidente do Senado Federal, venceu o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Ele foi respaldado pelo governo Bolsonaro, mas recebeu também o voto de partidos de oposição.

Os grandes confrontos, como este em tela, são reveladores de quem é quem na jornada contra o neofascismo no Brasil.

A disputa deu evidencias do grau de maturação da frente oposicionista e a força real do governo Bolsonaro.

Apesar de rachaduras no bloco das classes dominantes e dos grandes grupos econômicos e financeiros, a maior parte ainda respalda Bolsonaro, e, portanto, deu cobertura a candidatura de Arthur Lira. A deserção do DEM da candidatura de Baleia Rossi, e as tensões no PSDB ao final positivamente controladas, mostram para além do fisiologismo que setores dessas legendas seguem associados ao presidente genocida.

Em síntese, embora tenha se desgastado, se isolado, a força gravitacional do governo Bolsonaro ainda prossegue relevante.

No âmbito da esquerda, prevaleceu a orientação de frente ampla, pioneiramente defendida e praticada pelo PCdoB, daí a formação do amplo bloco constituído por MDB, PSDB, Solidariedade, Cidadania, Rede, PV, PSB, PT, PDT, PCdoB. Houve defecções em algumas legendas desta aliança, mas o importante é que este bloco resistiu ao pesado bombardeio do Bolsonarismo.

Com outras palavras, a oposição perdeu um confronto de fortes consequências políticas, mas avançou uma vez que pontes foram erguidas entre a esquerda e a direita, a partir de um interesse comum: preservar a democracia e defender os direitos e a vida dos brasileiros e brasileiras.

Na esquerda, o PSOL foi a exceção. Optou por uma candidatura solitária, sem chance alguma e objetivamente divisionista, o que favoreceu, para além das boas intenções, a candidatura bolsonarista.

A vitória de Bolsonaro não pode ser superdimensionada tão pouco menosprezada. Como já se disse, uma muralha se ergueu para blindar o tirano que está arruinando o Brasil e seu povo. Todavia, as contradições seguem, como se diz, em processo. No âmbito do Parlamento, haverá a cobrança da fatura e ela é vultosa. E Bolsonaro mais do que parceiro se tornou refém do Centrão que outrora amaldiçoou.

Como já sublinhado, o grande confronto travado a partir da frente larga que sustentou a candidatura de Baleia Rossi tem como saldo positivo uma trilha aberta para se constituir uma oposição mais ampla, dentro e fora do Congresso Nacional, único caminho eficaz para enfrentar e derrotar o neofascismo de Bolsonaro.

Finalmente, Arthur Lira, imediatamente após posse, como primeiro ato, dissolveu arbitrariamente o bloco partidário que apoiou Baleia Rossi, com objetivo de tentar excluir as legendas que compuseram a Frente Câmara Livre da disputa dos demais cargos da mesa diretora. Começa sua gestão com arrogância e conduta antidemocrática.