Egito: varrer Mubarak e o imperialismo

A emergência das massas árabes, primeiro na Tunísia, agora no Egito, fez mover o tabuleiro político no Oriente Médio. Há sinais de luta popular também no Marrocos, na Argélia, na Jordânia e no Iêmen. No Líbano, em situação distinta, também ocorrem abalos institucionais. A queda do governo de Hariri, aliado dos Estados Unidos e a subseqüente designação de um governo polarizado pelo Hezbollah permitem antever um quadro de dificuldades para os aliados dos EUA e de Israel na região.

No Egito os protestos iniciados no dia 25 de janeiro fazem vacilar uma das piores ditaduras apoiadas pelos EUA no Oriente Médio. Maior e mais populoso país árabe, o Egito paga a conta de ajustes neoliberais feitos sob o figurino do FMI e do Banco Mundial e, hoje, 90% dos jovens (que formam dois terços da população) estão desempregados e 40% da população vegeta abaixo da linha de pobreza.

A ditadura dirigida por Hosni Mubarak dirige o país desde 1981 quando o presidente Anuar Sadat, do qual o tirano era vice-presidente, foi morto a tiros pela própria guarda presidencial durante um desfile militar no Cairo. Sadat, que desde 1979 reconhecia o estado de Israel e havia se aliado aos EUA, era encarado como um traidor da causa árabe e foi morto cinematograficamente diante das câmaras de televisão que cobriam a solenidade militar da qual participava.

Nestas três últimas décadas, o Egito foi o maior aliado americano no mundo árabe – o outro grande aliado, a Arábia Saudita, com um terço da população do Egito: 28 milhões, contra os mais de 80 milhões do país mediterrâneo – e o segundo maior destino da “ajuda” militar e econômica dos EUA. O primeiro, lógico, é Israel.

Nestas condições, mais do que no Líbano (com toda a sua importância histórica e política) ou na pequena Tunísia, é nas ruas das cidades egípcias que está sendo jogado, hoje, o destino das alianças políticas e militares dos EUA e Israel. Uma mudança de regime no Cairo pode ter um enorme poder de desestabilização regional.

Mas o quadro ainda é pouco claro sobre os rumos que a rebelião popular pode tomar. Há uma certeza inescapável: a ira das massas contra ditaduras aliadas aos EUA e a Israel e que não suportam mais governos como o de Mubarak. A imprensa internacional e o Departamento de Estado, dirigido por Hillary Clinton, se esforçam para influir num desdobramento que parece inevitável, a queda de Mubarak, e preparam a imagem de Mohamed El Baradei como um substituto aceitável. Ele, que foi Diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), tem um extenso currículo de serviços prestados ao imperialismo e sua ascensão ao governo egípcio seria uma garantia de que mudam os nomes mas permanecem as alianças e a fidelidade aos EUA e a Israel.

Seria um desdobramento frustrante para um levante popular tão extenso e de custos materiais e em vidas humanas tão elevado. As nações árabes precisam avançar para a democracia, com soberania nacional e avanços sociais, o que só pode ocorrer com a ruptura com o imperialismo e seus aliados. O primeiro passo é, no caso do Egito, como foi na Tunísia, a derrubada do ditador.