Crise mundial e recorde de desemprego

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou nesta semana um estudo aterrorizador para os assalariados do mundo todo. Segundo as suas projeções, a crise da economia capitalista, deflagrada nos EUA, pode resultar em mais 20 milhões de desempregados até o fim de 2009. O número de deserdados pularia dos atuais 190 milhões para 210 milhões, ''um recorde histórico'', segundo Juan Somavia, diretor-geral da OIT. Ele mesmo advertiu que esta previsão é otimista e que os números podem piorar caso a crise se prolongue e atinja com mais ímpeto a produção.


 


''Necessitamos de uma ação rápida e coordenada dos governos para prevenir uma crise social que pode se mostrar severa, prolongada e global'', recomendou. O estudo indica ainda que o número de ''trabalhadores pobres'', com renda inferior a um dólar por dia, pode crescer em 40 milhões e o de pessoas com renda até dois dólares pode aumentar em 100 milhões. Para Somavia, a atual crise revela as distorções do capitalismo, decorrentes da sua financeirização. ''O nível de lucros tornou-se tão alto que os bancos preferiram as finanças a aplicar na produção que gera empregos. O sistema financeiro mundial deve retornar a sua função básica, a de emprestar'', aconselhou.


 


A previsão da OIT não tem nada de alarmista. Refletem um drama que já se faz sentir. Nos EUA, epicentro da crise, foram eliminadas 159 mil vagas em setembro, o maior número de demissões desde 2003. Quando Bush tomou posse, em 2001, a taxa de desemprego era de 3,9%; agora, ela atinge 6,1%. Até o mês passado, já foram extintos 760 mil postos de trabalho e várias projeções indicam que o ano deve terminar com mais de 1 milhão de demitidos – algo raro na história dos EUA. Na Europa, as notícias sobre demissões também são preocupantes. Já no Brasil, algumas empresas já anunciam férias coletivas, o que pode ser um prenúncio do cruel facão.


 


Diante destas projeções, os trabalhadores devem se preparar para acirrados enfrentamentos. O capital tentará despejar todo o ônus da crise nas costas dos assalariados. Na fase da bonança, ele embolsou os lucros; agora, tentará socializar os prejuízos; antes, pregou o desmonte neoliberal do Estado; agora, sugará os recursos públicos para se salvar da crise. Como afirma a executiva nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), é urgente intensificar a pressão unitária do sindicalismo para impedir que a crise gere mais desemprego e miséria.


 


''O movimento sindical e a classe trabalhadora brasileira não devem se dar ao luxo de contemplar passivamente o desenrolar da crise, pois esta constitui uma série ameaça às modestas conquistas obtidas pelo povo brasileiro desde a eleição do presidente Lula, em 2002. A CTB conclama as demais centrais a reforçar sua unidade, a debater imediatamente o tema e a elaborar uma posição conjunta, que deve ser bandeira da 5ª Marcha convocada para 3 de dezembro em Brasília e tema central do Fórum Social Mundial. A classe trabalhadora deve se pronunciar numa só voz em defesa dos seus direitos e interesses, do crescimento econômico sustentável, do emprego, do desenvolvimento nacional com soberania e valorização do trabalho, rechaçando a dieta recessiva que os ideólogos neoliberais recomendam aos mais pobres (e não aos ricos) e exigindo que o capital financeiro, e não o povo trabalhador, pague a conta amarga da crise'', afirma a nota da CTB.