Cresce o coro do ''Fora Meirelles''

O coro contra os juros altos mantidos pela política antidesenvolvimentista do Banco Central de Henrique Meirelles alcançou quase a unanimidade – só os banqueiros e os especuladores estão fora.


 


O Brasil é o campeão mundial dos juros e figura com destaque, nesta categoria, na lista divulgada nesta semana pela Uptrend Consultoria Econômica. Está na contramão dos países que usam a política de juros contra a crise. Naquela tabela pode-se ver que os juros são negativos no Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Japão, Suécia, União Européia. Mesmo em países emergentes, como a Rússia e a Índia, eles são negativos.


 


Mas o Banco Central de Henrique Meirelles insiste em manter a estratosférica taxa de 13,75% (que, descontada a inflação, dá um juro real de 7,9% ao ano). Em todos os setores houve reações contrárias à decisão, tomada no dia 10, de manter esse himalaia financeiro. Paulo Nogueira Batista Jr, representante brasileiro na diretoria executiva do FMI, deu o nome aos bois beneficiados pela decisão: a ''turma da bufunfa'' que, disse, ''salivava intensamente''.


 


O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, chamou a equipe do Banco Central de ''obsoleta para lidar com o cenário e os efeitos da crise”. Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), disse que ela está ''dissociada da realidade econômica mundial'', acusou o Banco Central de ignorar o ''risco do contário pela recessão mundial'', e chamou o risco de inflação alegado para manter os juros altos de ''imaginário''.


 


Nas ruas, os trabalhadores exigiam: ''Ou caem os juros, ou cai Meirelles''. A manifestação das centrais sindicais dava corpo e consistência às reclamações que cresciam por todos os lados. A CTB acusou o Banco Central de premiar a usura, alimentar a ganância e contrariar ''frontalmente os interesses da classe trabalhadora''. Para a Força Sindical a decisão ''é um desastre para a economia brasileira'', que privilegia ''os especuladores em detrimento da produção e do emprego''. A CUT, por sua vez, acusou a decisão de sabotar ''o princípio de desenvolvimento'', jogando ''contra os empregos e os salários, que devem ser prioridade absoluta na conjuntura em que nos encontramos''.


 


No próprio campo tucano houve reações ácidas. O governador de São Paulo, José Serra, que não é um novato na crítica aos juros altos, questionou a capacidade técnica da equipe liderada por Henrique Meirelles dizendo que ''partem de premissas equivocadas''. 


 


Uma questão grave, apontada por outro crítico notável, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, foi a demonstração de falta de coesão no comando do país para ''coordenar ações de profundidade e abrangência'' contra a crise. Belluzzo classificou a decisão do Banco Central de ''infantilizada'' e de usar um ''quase poder de chantagem'' para ''colocar suas supostas prerrogativas à frente das prioridades da economia nacional num momento grave como esse''. O Banco Central, acusou, “não pode viver num a esfera apartada da Nação'' nem  ''se portar como um governo paralelo”. O tucano Serra tem opinião semelhante e acusou o Banco Central de fazer uma demosntração de força para mostrar autonomia e independência ante as pressões. É uma opinião que corrobora a avaliação de que a equipe do Banco Central afrontou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


 


A palavra, agora, está com o Palácio do Planalto, que tem a prerrogativa de romper o dilema entre juros, desenvolvimento e enfrentamento da crise. Cabe-lhe decidir se vai usar a bandeja que o país oferece para colocar nela as cabeças que mantém os juros altos.