Cauteloso otimismo no Líbano

O Líbano deu neste domingo (25) uma pouco usual demonstração de unidade. Seu Parlamento elegeu o general Michel Sleiman como presidente da república, com 118 votos em 127. Votaram em Sleiman desde os direitistas pró-EUA de Saad Hariri até a resistência xiita do Hezbolá.



Foi o primeiro passo na aplicação de um acordo de coexistência alcançado na quarta-feira entre as forças que dilaceram o país. Na semana que vem deve se constituir um governo de unidade nacional. Para o ano que vem, estão previstas eleições, conforme regras que democratizam parcialmente o sistema confessional. Sente-se no país um cauteloso otimismo.


 


O presidente George W. Bush cumprimentou Sleiman e convidou-o a visitar os EUA, disfarçando seu constrangimento. A diplomacia de Washington não gostou dos termos do acordo, visto como uma concessão aos ''terroristas'' libaneses.



O entendimento libanês seguiu-se a seis meses de crise, em que o país ficou sem presidente. E em seus momentos finais, a crise desaguou em conflito armado, com 65 mortos, trazendo de volta o fantasma da guerra civil de 1975-1990, que custou 150 mil vidas e não teve um vencedor nítido. Ao que parece, o resultado dos combates foi decisivo para convencer Hariri e sua gente de aceitar uma solução negociada.



O Hezbolá festejou o acordo nesta segunda-feira, em ato público com milhares de pessoas no sul de Beirute, convocado para festejar oito anos de sua vitória sobre Israel – o Partido de Deus é a única força que já derrotou o exército israelense, por duas vezes: em 2000, ao expulsar o Tsahal do sul do país, e em julho-agosto de 2006, ao repelir uma segunda invasão. Para Hassan Nasrallah, secretário-geral da organização, ''a eleição de Michel Sleiman traz aos libaneses a esperança de uma nova era e um novo começo''.



Apresentado no Ocidente como uma seita terrorista, o Hezbolá é o maior mas não o único componente da oposição antiimperialista libanesa. Esta, agrupada na Aliança 8 de Março, criada em 2005, reúne dezenas de organizações, nove delas representadas no Parlamento: além do Hezbolá (xiitas, 14 deputados), ali está o Amal (xiitas, 15 deputados), a organização de Michel Aoun (cristãos, 15 deputados) e o Partido Comunista Libanês (laico, nenhum deputado).



Estas forças são sub-representadas pelo sistema político confessional, que vigora desde o fim do domínio colonial francês, e arbitra o número de deputados para cada confissão religiosa: 64 deputados para o bloco crisão (maronitas, ortodoxos, católicos, armênios, protestantes) e 64 para o muçulmano (xiitas, sunitas, druzos, alawitas), embora este some de 60% a 65% da população libanesa, sem contar os refugiados palestinos.


 


O acordo atual apenas introduz mudanças quantitativas no sistema, criando novos distritos e minorando algumas distorções. Nasrallah tem portanto razão ao falar em um ''começo''. O PC Libanês, no editorial da edição de maio de seu jornal, An-Nidaa, insiste: ''Propomos uma solução que se baseie na convicção da necessidade de reformar o país no sentido de reduzir a influência externa e superar o confessionalismo. Isto colocaria o Líbano na via da criação de um Estado moderno, democrático, laico, e preservaria sua feição árabe.''