Brasil acolhe refugiados palestinos do Iraque

De tanta alegria e esperança, o refugiado palestino Ghazi Shaheen até compôs um samba. Ele é um dos 117 palestinos que hoje, dia 20 de setembro, começam a deixar o Iraque rumo ao Brasil, onde começará vida nova. E promete mostrar o samba que compôs quando estiver aqui.


Shaheen foi diretor de teatro em Bagá até a invasão americana do país, em 2003. E, com outros palestinos de credo sunita, teve que se fugir para sobreviver. E vive, desde então, no acampamento de refugiados localizado em Ruwayshid, na Jordânia, próximo à fronteira iraquiana. Ali, acumulam-se histórias trágicas, como em qualquer acampamento que acolhe perseguidos políticos e religiosos, ou aqueles que fogem dos horrores da guerra. Em Ruwayshid vive também Ahmed, que quer um pedaço de terra, uma vaca… e uma esposa brasileira. Ali Samir, que  quer ser comerciante; ou Mohamed Sadi, cujo sonho é abrir um restaurante; ou Issa, um professor de agronomia da Universidade de Bagdá e que, no Brasil, que voltar a dar aulas.


Até hoje, eles viviam em barracas provisórias, no meio do deserto, enfrentando o calor de 40 graus do dia, e o frio intenso da noite; convivendo com escorpiões, falta d´água, alimentação escassa, diarréia, desidratação e outros males. E com a lembrança do terror deixado para traz. São pessoas que, em muitos casos, vem mudando de casa – e de país – desde a década de 1980. Muitos mudaram de país quatro ou cinco vezes desde então!


Issa, o agrônomo, é um exemplo dessa trajetória terrível. Ele foi professor na Universidade de Bagdá mas teve que fugir depois que “quatro professores do meu departamento apenas porque eram sunitas'', disse. ''Deixei tudo em Bagdá, incluindo minha ampla biblioteca.”


Ele faz parte dos 1.450 palestinos que vivem em acampamentos na região. Seu acampamento, em Ruwayshid, já chegou a ter mil pessoas, e deixará de existir agora que, por um acordo entre a ONU e o governo brasileiro, os 117 remanescentes serão transferidos para o Brasil – que faz parte, com o Canadá e a Nova Zelândia, dos países que aceitaram oferecer a eles uma nova pátria. O país vai acolher 40 famílias; o Canadá, 55 pessoas, e a Nova Zelândia, 22. Aqui, eles terão cursos de português, informações sobre a cultura brasileira e apoio para enfrentarem os primeiros meses de vida por aqui, até que consigam estabelecer-se por conta própria. As crianças terão aulas intensivas de português para que possam freqüentar a escola brasileira já no ano letivo de 2008.


Esta é mais uma das boas notícias que, nos últimos meses, reflete a ação do governo Lula, da política externa dirigida pelo chanceler Celso Amorim. A inserção do país no mundo representa também que o país deva assumir obrigações humanitárias. E o acolhimento, em nossa pátria, de seres humanos perseguidos e desejosos de uma vida em paz, faz parte da tradição brasileira de hospitalidade e respeito à vida.


Hoje, dia 20 de setembro, os moradores do campo de refugiados de Ruwayshid começam a viajar para o Brasil. Bem vindos à nova pátria!