Aos 20 anos, Mercosul está mais forte

Passadas duas décadas desde a assinatura do Tratado de Assunção, que formalizou a criação do bloco sul-americano com seu núcleo original, formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o Mercosul exibe uma saúde que contraria as avaliações negativas feitas pelos críticos conservadores, que não escondem seu descaso pela união continental nem sua preferência por uma aliança subordinada aos EUA e aos países europeus, como tradicionalmente ocorria.

Essa saúde, que poderá ser vista novamente na 41ª Cúpula do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e Estados associados, faz parte também do fortalecimento da articulação continental que, em julho, vai dar mais um passo decisivo com a formalização de outro organismo que marca a autonomia das Américas de fala espanhola e portuguesa, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos – CELAC, criada na “Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe”, realizada no México, em 2010 e que, efetivamente, coloca a OEA, dominada pelos EUA, para escanteio, transformada numa entidade meramente figurativa e protocolar.

As críticas conservadoras contra o Mercosul multiplicam-se pelos jornais, enfatizando problemas no comércio local, sem dúvida relevantes, mas que merecem a atuação rápida e coordenada dos países envolvidos. Estes problemas estarão presentes, naturalmente, na pauta da reunião que começa hoje em Luque, no Paraguai. É uma pauta extensa que inclui problemas econômicos, desde as relações dentro do bloco até, principalmente, com outras nações e demais blocos. A integração plena da Bolívia e do Equador será um desses temas que interessam ao fortalecimento do bloco. Outro será a defesa de programas de inclusão social em benefício dos povos da região. Será abordada também a liberdade de circulação de mercadorias por rios e terras, em busca de solução para esta reivindicação dos países menores.

O tratamento preferencial à Bolívia e ao Equador tem sentido – afinal, ao contrário dos outros membros associados (Chile, Peru e Colômbia), aqueles países não têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos ou a União Europeia.

No ano passado, o comércio entre os países do Mercosul chegou a US$ 44,55 bilhões. Apenas nos primeiros cinco meses de 2011 o comércio do Brasil com seus parceiros regionais beirou US$ 18 bilhões, quase um terço a mais do registrado no mesmo período de 2010. E há um grande potencial de crescimento, desde que o comércio entre os países do bloco representa 10% de suas trocas totais com os demais países.

Nestes 20 anos o crescimento das trocas regionais foi intenso. Elas chegavam a apenas US$ 4,5 bilhões em 1991, tendo sido multiplicadas por dez neste período e podendo em 2011 ultrapassar, na avaliação do chefe da diplomacia brasileira, Antônio Patriota, os US$ 50 bilhões. É um dinamismo que contrasta com as dificuldades enfrentadas por outros blocos, como a União Europeia, e supera o crescimento da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O que chama a atenção é o crescimento do comércio regional nestas duas décadas. Ele desmente todas as avaliações pessimistas e aponta para um rumo promissor.