A valorização da Política

Aproxima-se o grande embate político em torno da eleição para a presidência da República em 2010. As forças políticas brasileiras se alinham e procuram debater as questões programáticas e os nomes dos candidatos para defender estas plataformas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem cumprindo aquilo que mencionou há mais de um ano, quando disse pensar na sucessão todo santo dia.


 


Nesse debate, a ministra da Casa Civil, com sua trajetória política de luta pela democracia e como gestora e responsável por um dos mais importantes programas do atual governo, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), Dilma Rousseff ganha cada vez mais apoio político nas recentes pesquisas de opinião. E faz um esforço de se qualificar dentro de seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores, junto a todas as correntes que atuam dentro do PT.



Outras forças políticas também trabalham para posicionar seus candidatos. É o caso de setores do PSDB de São Paulo que se organizam em torno do governador do Estado, José Serra. Nas últimas eleições municipais Serra garantiu suas posições no maior colégio eleitoral do país em aliança com o prefeito reeleito da capital, Gilberto Kassab, do DEM. O governador também se movimenta nacionalmente para construir palanques que lhe sejam favoráveis no ano que vem. Sua posição nas pesquisas, entretanto, começam a apresentar sinais de declínio. A outra ala do PSDB alinhada com o governador de Minas Gerais, luta pela indicação de Aécio Neves e também se articula: organiza viagens pelo Brasil, exige a realização de uma prévia no PSDB e discute o nome do neto de Tancredo Neves com outros partidos.



Outra vertente que busca definir-se neste quadro é a que se alinha em torno do deputado federal Ciro Gomes, do PSB, ex-ministro da Fazenda, e que já foi também candidato à presidência da República em eleições passadas. A Fundação João Mangabeira convocou um debate semana passada num auditório da Câmara dos Deputados, com sua presença.


 


A apresentação da candidatura de Ciro retoma não apenas uma necessidade política, mas uma tradição, como lembrou o deputado pelo PCdoB de São Paulo, Aldo Rebelo, presente naquele debate. A política constrói o futuro a partir de sua ação, disse Aldo e completou: ''Acho que paralelamente à campanha que se faz para se subtrair da política a propriedade do destino coletivo, a própria política — talvez estimulada por essa campanha — renuncia também a esse objetivo. Tratando das coisas imediatas, geralmente das reivindicações das corporações, os governos e os partidos terminam por se transformar numa mesa de negociação para atender a demanda das forças organizadas da sociedade, que não são maioria. São forças que se organizam por forças corporativas privadas ou às vezes também públicas. Acho que nós, pelas obrigações que temos, pela tradição e pelos nossos compromissos, temos a obrigação de levar esse debate para o nosso povo''.



De fato, deveríamos perguntar: o que vai ser o nosso país daqui a 20, 30 e 40 anos? Qual será o legado que vamos deixar para as futuras gerações? Hoje o que se busca é apenas o próximo acordo e a próxima aliança que garanta a vitória do próximo governo e que garanta a governabilidade. Não há nada de errado na busca de alianças para a governabilidade que permitam a um governo governar com base nelas. O problema não reside aí. O problema reside no conteúdo. Aliança com que conteúdo? Com que objetivos, em função de que interesse? Isso é o que se ressente a política no Brasil nesse momento.