A tragédia social do desemprego recorde

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O Brasil bateu recorde de desemprego, segundo dados dos pesquisadores Bruno Ottoni e Tiago Barreira, da consultoria iDados, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no trimestre encerrado em julho, de 13,8%. É a maior taxa desde 1992. Outra constatação trágica é que nunca tantas pessoas procuram trabalho e não encontraram. São mais de 13,1 milhões.

Há ainda um grande contingente de subocupados por insuficiência de horas, um contingente de mais de 5,7 milhões de pessoas, e outras 13,9 milhões que estão na força de trabalho potencial, formando um grupo de quase 32 milhões. As avaliações são de que esses dados crescerão rapidamente. Com o relaxamento do distanciamento social, esse contingente deve pressionar o mercado de trabalho.

E as estatísticas negativas vão além. O IBGE divulgou o levantamento da Pnad Contínua entre abril e julho desse ano. Resultado: 32,9 milhões não encontraram emprego. Esses números indicam o pior desemprego da série histórica dessa pesquisa, cuja primeira foi em 2012. Neste mesmo período, o país registrou o menor contingente de pessoas ocupadas da série: 82 milhões. O que é muito pouco para um país que tem 212 milhões de habitantes.

O cenário se agrava com a perspectiva próximo do fim da única fonte de renda de muitas famílias, o auxílio emergencial, e da ameaça imediata do governo Bolsonaro de reduzir o seu valor de R$ 600 para R$ 300. Ou seja: por todos os ângulos que se olhe para o problema, as previsões são sombrias. A piora é tida como certa – resta saber em qual proporção.

Esses dados são sintomas da orientação econômica adotada pelo governo Bolsonaro, sob o comando do ministro da Economia, Paulo Guedes. A base da crise, que precede a pandemia, se sustenta no famoso tripé neoliberal – câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal –, uma bola de chumbo atada ao tornozelo da produção. Com essa política, o Estado torra recursos preciosos e imensos numa ciranda financeira que não agrega qualquer valor à nação e sangra o erário público.

Vem dessa receita a valorização descontrolada do dólar, que barateia as exportações e encarece as importações, gerando desequilíbrio no intercâmbio comercial. O resultado desse livrecambismo é a crise de abastecimento de gêneros de primeira necessidade no país, com as exportações de vento em poupa, gerando divisas que são contabilizadas na meta fiscal, rigorosamente controlada por mecanismos como a Emenda Constitucional 95, o chamado teto dos gastos públicos.

É um jogo bruto contra o Brasil, com regras rigorosas para garantir recursos públicos fartos no giro do circuito financeiro. Com ele, o Estado fica impedido de operar de forma mais eficiente no que toca à aplicação dos recursos públicos. A prioridade às questões sociais, a superação do grande déficit em infraestrutura e a condução do processo de retomada do desenvolvimento nacional, fundamentais para corrigir as graves injustiças do país, não entram nesse projeto.

Essa é a base da crise. Com a chegada da pandemia, ela empurrou a economia do país ainda mais para o fundo do poço. E pior: sem nenhum sinal de que as alavancas do Estado – bancos públicos, empresas estatais e administração socialmente responsável do orçamento para socorrer os que não têm fonte de renda, as empresas mais vulneráveis e os estados e municípios – serão acionadas para socorrer o povo.

A economia sob o comando do governo Bolsonaro e regida por Paulo Gudes só tem a oferecer cenários de tragédia social como esses dados de emprego e subemprego. Com o Estado limitado à rolagem de títulos públicos que rendem fortunas a cada dia, não há nenhuma possiblidade de uma retomada da atividade econômica efetiva e consequentemente a geração de empregos e renda.