A tragédia do obscurantismo bolsonarista

Manifestação pedindo o impeachment do presidente Bolsonaro por genocídio durante a pandemia da Covid-19 (Foto: Divulgação)

Os números são superlativos. As mortes por Covid-19 superaram a casa de 230 mil desde o início da pandemia. Há mais de um mês a média diária ultrapassa mil óbitos e assemelha-se aos piores momentos da crise sanitária em 2020. Para agravar ainda mais a situação, o país segue em marcha lenta na vacinação, enquanto o governo Bolsonaro não se afasta um milímetro da sua posição de inércia e descaso diante da tragédia. Ao não se importar com essa escalada trágica, na prática ele está potencializando o avanço da contaminação e, em decorrência, de mortes.

Há ainda outras consequências igualmente graves, como superlotação de unidades hospitalares, sobretudo as do setor público, sabidamente sacrificadas ao longo do tempo pelo descaso dos governos que agem em favor de interesses privados. Por essa equação, a lógica é de sugar as áreas que atendem aos interesses do conjunto da sociedade para garantir a dinâmica da monumental transferência de renda dos pobres para os ricos.

No governo Bolsonaro, essa dinâmica rege o Estado de maneira cada vez mais autoritária. Na busca de plenos poderes, o bolsonarismo não mede esforços para se apoderar das instâncias da institucionalidade do país. Foi o que se viu recentemente no processo de sucessão na presidência da Câmara dos Deputados, quando o governo liberou recursos orçamentários e cargos oficiais para arrebanhar votos para eleger Artur Lira. O pano de fundo da manobra é a agenda do projeto ultraliberal e neocolonial, centrada em cortes de recursos – a bateria de reformas, que complementam a Emenda Constitucional do teto de gastos – e no desmonte do setor público.

Uma agenda como essa, de alto a baixo composta de parasitismo do Estado, afronta à nação com o entreguismo pela via das privatizações de empresas essenciais ao Brasil e sacrifica o povo com cortes orçamentários chamados de “reforma administrativa” e “ajuste fiscal”. Ela está no lado oposto ao da realidade do país, que se bate para enfrentar, além da pandemia e de seus efeitos, a grave crise econômica, que tende a se agravar drasticamente em curto espaço de tempo.

Com essa agenda, o governo Bolsonaro, ideologicamente contrário à ciência, diz abertamente que a vacinação e a contenção da propagação do vírus não fazem parte do espectro da sua governabilidade. O presidente da República tem dito isso insistentemente, chegando a conclamar, aos brados, como fez recentemente, os que, segundo sua teoria, não correm riscos com a pandemia a trabalhar. Para ele, o vírus é uma coisa natural – uma variante do que dissera ser uma “gripezinha –, que deve ser encarado como seu governo encara, deixando a inércia cuidar da tragédia.

Não é preciso pensar muito para se chegar à conclusão de que essa política é genocida. Sua composição por essas duas variáveis – saque ao Estado e à nação e obscurantismo autoritário – não se sustenta à luz de uma visão humanista e civilidade de sociedade. Ou por outra: o governo Bolsonaro é inimigo do país e do povo brasileiro. Não faz sentido pensar na possibilidade de que para enfrentá-lo é preciso preservar o prazo do seu mandato. O Brasil precisa de ações emergenciais, amplas e unitárias, que combatam essa agenda e, por consequência, socorram as urgências da população.