A “rédea curta” em Meirelles

Crescem as especulações na mídia de que o presidente Lula pretende agir com mais rigor junto à direção do Banco Central no seu segundo mandato. Em conversas reservadas, ele teria afirmado que deseja interferir mais diretamente na definição das políticas monetária e cambial e manter o presidente da instituição, o banqueiro Henrique Meirelles, “na rédea curta”. Uma audiência já estaria agendada entre ambos para depois do Carnaval visando discutir os novos nomes que irão compor o hermético e tecnocrático comando do banco.



Alguns diretores do órgão já teriam manifestado a intenção da deixar seus postos – entre eles, o monetarista ortodoxo Afonso Bevilaqua, tido como o cacique dos neoliberais na cúpula desta poderosa instituição. O presidente Lula, que já manifestou várias vezes sua irritação com a linha conservadora do banco, mesmo fazendo juras de amor a Meirelles, teria sinalizado que a reforma ministerial, que deve ser anunciada nas próximas semanas, seria uma excelente oportunidade para mexer no intocável comando do órgão.



De há muito que o Bacen, infiltrado de tucanos e representantes dos banqueiros, emperra o crescimento econômico com sua política de juros estratosféricos e libertinagem cambial a serviço da ditadura do capital financeiro. A sua última tacada foi uma baita provocação política. Três dias após o presidente Lula anunciar, com toda a pompa, o seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o banco reduziu o ritmo da queda da taxa básica de juros, jogando água fria no plano de desenvolvimento. “Vocês elegem o presidente, mas somos nós, os banqueiros e rentistas, que mandamos no país”, foi o recado provocativo.



No seu hibridismo, o primeiro governo Lula não peitou os tecnocratas do banco, temendo a ira do “deus-mercado”, nome fictício do capital financeiro. Mas agora cresce a pressão por mudanças. O próprio PT, partido do presidente, acaba de aprovar uma resolução com duras críticas ao Bacen. “Entendemos que há condições para acelerar a redução da taxa de juros e criticamos, enfaticamente, o conservadorismo da recente decisão do Copom”. Já vários movimentos sociais, como a UNE e a CSC, exigem o “fora Meirelles”.



Como diz o ditado, onde há fumaça, há fogo. Seria bom, inclusive para o êxito do PAC, que as especulações sobre as mudanças na direção do Bacen se confirmassem. Uma forte pressão nesta hora, diante do enorme poder da ditadura do capital financeiro, pode ajudar.