A pressão pela queda da taxa Selic

A grave crise econômica e financeira desencadeada a partir dos Estados Unidos desde agosto de 2007, com o chamado crash do subprime – e que alcançou o seu ponto culminante um ano depois com a falência do Banco de Investimentos Lehman Brothers – afetou profundamente os EUA, espalhou-se pela União Européia, Federação Russa e Japão, chegando até à China, Índia e vários países asiáticos. Apesar de estar mais bem preparado para enfrentar a crise, o Brasil já vem sofrendo suas conseqüências funestas.


 


O número de demissões na indústria paulista em dezembro foi o maior registrado na última década. O desemprego em São Paulo deu um salto no final do ano. A Fiesp calcula que de 100 a 120 mil postos de trabalho com carteira assinada foram fechados. Com este resultado ficou praticamente zerado o índice de criação de empregos no ano de 2008. No ano, até setembro, a geração líquida havia sido de 167 mil empregos, enquanto que em 2007 foram geradas 104 mil vagas.


 


O Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul (filiado à CTB), importante pólo industrial do Rio Grande do Sul, dará largada nesta segunda feira, (19/1), a uma ampla mobilização da categoria para enfrentar as ameaças de demissões em massa. A entidade, ao lado os protestos marcados para o dia 30 de janeiro, pretende constituir um comitê com a presença de sindicatos de outras categorias, empresários e a própria comunidade, para discutir alternativas contra as demissões. ''Queremos discutir a verdadeira razão dessas demissões, se são realmente motivadas pela crise, e garantir o emprego e renda dos trabalhadores'', afirma o presidente do sindicato Assis Melo, acrescentando que as alternativas também passam pelo esforço do governo federal no sentido de baixar os juros e impostos, diminuir a jornada de trabalho sem reduzir os salários.


 


Nesta segunda feira está prevista uma reunião entre o presidente Lula e os representantes das centrais sindicais para discutir o enfrentamento da crise. A Fiesp, em São Paulo, já tem também um encontro marcado com as centrais para tentar fechar um acordo sobre as demissões.


 


O enfrentamento da crise envolve também a questão dos juros altos. Há quatro reuniões sucessivas o Comitê de Política Monetária, o famigerado Copom, vem elevando a taxa do juro básico; em três delas, mantendo-a nos mais altos níveis do mundo. Na próxima quarta-feira, dia 21, ele volta a se reunir, e a expectativa generalizada é a de que, desta vez, comecem a inverter a tendência, e iniciem a curva de queda nos juros. Os diretores do Banco Central se reunirão, desta vez, pressionados por uma onda de demissões que ameaça avolumar-se e generalizar-se. E o Brasil está entre os raros países que não promoveram uma queda forte na sua taxa de juros para enfrentar a crise, como aconteceu com o Federal Reserve, nos EUA, o Banco Central Europeu, o Banco do Japão, da Coréia do Sul, etc., que foram unânimes no esforço de baixar a taxa e de promover o resgate das empresas mais atingidas.


 


O movimento social e o movimento sindical vão pressionar pela redução dos juros brasileiros a um nível minimamente ''civilizado'', em torno de um juro real de 3,5%, que é praticamente a metade dos índices que atualmente se pratica no mercado financeiro em nosso país. Trata-se agora de um problema de segurança nacional, para tentar manter os níveis de desenvolvimento absolutamente necessários para enfrentar a crise, afastando a ameaça do desemprego e da queda na renda dos trabalhadores.