A polícia não pode sair matando

À medida em que baixa a poeira da crise na segurança pública de São Paulo, a violência policial emerge ao lado da violência criminal – sempre tendo como alvo a população honesta e pacífica da Região Metropolitana. Cresce a suspeita de que os mortos apresentados como “suspeitos de vinculação com o PCC” foram executados.

 

Segundo laudos do IML (Instituto Médico Legal), ao menos 22 suspeitos foram mortos com tiros dados de cima para baixo. O governador Cláudio Lembo assegura que “não houve execuções”, pois “a polícia é equilibrada e racional”. Mas São Paulo, no calor dos dias que se seguiram aos ataques do PCC contra policiais, pode ter vivido o seu segundo Carandiru.

 

A realidade da crise de segurança é percebida de modo diferente conforme o prisma de quem a enxerga.

 

Em segmentos da polícia civil e militar, a suplantação da lista de agentes da ordem assassinados, por larga margem de vantagem, parece ter sido encarada como uma questão de honra. 

 

Nos segmentos mais endinheirados, que o próprio Lembo chamou de “burguesia má e perversa”, as mortes de “suspeitos” foram recebidas com alívio: antes tarde do que nunca, restaurou-se a normalidade.

 

No entanto, outra é a percepção à medida em que se escuta os segmentos da cidadania passíveis de serem encarados pelos policiais como “suspeitos de vinculação com o PCC”: os pobres, os jovens, os não-brancos. Quem se classifica ao mesmo tempo nessas três categorias, sente-se mais inseguro diante da fúria policial – por mais e melhores razões que esta exiba.

 

O caso emblemático foi o de Ricardo Flauzino, 22 anos, abatido com três tiros no Jardim Filhos da Terra, zona norte de São Paulo, quando esperava a noiva, por seis homens encapuçados que desceram de um veículo da Força Tática da PM. Como classificar o episódio?

 

O assunto preocupa o Ministério Público e as entidades de defesa dos direitos da pessoa humana. E não se venha dizer que se trata da “defesa dos direitos da bandidagem”: a polícia não pode sair matando. Isso só degrada ainda mais o quadro de segurança em São Paulo.