A luta de classes no coração no imperialismo

O Dia do Trabalhador voltou a ser comemorado, nos Estados Unidos, em 1o de Maio, como ocorre em todo o mundo. Lá, para “apagar” a memória dos mártires de Chicago, os líderes operários enforcados em novembro de 1887 por dirigir, em 1o de maio de 1886, uma greve pela jornada de oito horas de trabalho, o dia do trabalhador é comemorado em setembro.

 

Este ano, ao marcar para este dia uma etapa de sua manifestação nacional, o movimento que exige o reconhecimento dos direitos dos imigrantes colocou também no centro da agenda social norte-americana a data que recorda a secular luta dos trabalhadores. Foi uma grandiosa demonstração que deu visibilidade à luta social que ocorre, em grande escala, no coração da nação mais rica e militarmente mais poderosa, centro dirigente do imperialismo e cidadela da reação mundial em nosso tempo.

 

As manifestações começaram em março, contra novas leis de imigração discutidas na Câmara dos Representantes e no Senado dos EUA, que agravam a situação dos trabalhadores que lá vivem ilegalmente. São leis que prevêem tratamento como criminosos aos imigrantes que não tenham documentos, aumentam em mais de mil quilômetros o muro entre os Estados Unidos e o México (que já tem três mil quilômetros), e aumentam para cerca de 25 mil soldados a tropa policial que vigia aquela fronteira (hoje são 11.300 soldados).

 

Fronteira sangrenta, é preciso registrar. Somente entre 1992 e 2003 a repressão antiimigração matou 6.500 pessoas que tentavam atravessá-la, mais do que em toda a existência do muro de Berlim (entre 1961 a 1989), onde morreram entre 267 pessoas, num cálculo mais restrito, ou 1.065 segundo outras estimativas. O muro americano é responsável pela morte de 590 pessoas por ano, enquanto no muro de Berlim esse número foi muito menor, entre 10 a 38.

 

Mesmo assim, o número de pessoas que procuram, nos Estados Unidos, o sonho de viver melhor na metrópole, é muito grande. Existem cerca de 12 milhões nessa situação (cuja imensa maioria é formada por latino-americanos, principalmente do México e da América Central), dos quais 7,2 milhões tem algum tipo de emprego, representando 4,9% da força de trabalho do país segundo estudo divulgado no ano passado pelo instituto Pew Hispanic Research.

 

O impacto econômico de sua paralisação, em conseqüência, é sensível. O economista Jack Keser, da Los Angeles Economic Development Corp., calculou que o prejuízo do boicote de um dia pode ter sido de até US$ 200 milhões somente em Los Angeles, uma sexta parte do US$ 1,2 bilhão que é gerado diariamente pela atividade econômica naquela cidade.

 

Do ponto de vista político, o resultado foi portentoso. As manifestações reuniram centenas de milhares de pessoas nas principais cidades. Foram um milhão em Los Angeles, mais de meio milhão em Chicago e meio milhão em Nova York; em outras cidades, como Orlando, Atlanta, Denver e Washington, centenas de milhares participaram dos protestos, que ocorreram em mais de 60 cidades do país. Novas manifestações estão previstas para o dia 19 de maio, quando ocorrerá também uma nova marcha nacional em Washington.

 

A luta de classes volta à tona, com intensidade semelhante à das grandes jornadas da década de 1960, quando milhões de operários negros ocuparam as ruas das cidades norte-americanas para exigir direitos civis e o fim do apartheid e do racismo.

 

Hoje, quase meio século depois, o protesto dos imigrantes nos EUA expõe também uma das chagas da globalização neoliberal, a contradição entre a imposição da abertura dos mercados nacionais para a livre circulação de mercadorias e de capitais, principalmente das multinacionais estadunidenses e européias, e o agravamento dos obstáculos para a circulação da força de trabalho.

 

As grandes empresas capitalistas procuram, assim, controlar o mercado de trabalho e beneficiar-se das enormes diferenças salariais entre as nações, procurando trabalho barato para produzir bens que, nos mercados ricos, são vendidos com enormes lucros. Beneficiam-se também da mão de obra barata dos imigrantes que, nos EUA e na Europa, ocupam-se dos trabalhos mais penosos e mau remunerados, situação piorada pela existência verdadeiramente clandestina destes trabalhadores que, sem documentos e vivendo na ilegalidade, submetem-se a todas as imposições e não conseguem enxergar a perspectiva de lutar por seus direitos. O movimento dos imigrantes nos EUA tem a virtude de apontar para uma perspectiva, que só pode decorrer da luta coletiva.