A hora da onça beber água

Em plena ditadura militar, os metalúrgicos do ABC paulista popularizaram a expressão “chegou a hora da onça beber água”, insistentemente repetida pelo presidente do sindicato da categoria na época, o operário Lula, para indicar o momento do confronto decisivo contra os patrões e o governo autoritário. Com muita garra, as greves daquele heróico proletariado foram determinantes para desgastar o regime militar e para abrir o caminho para a redemocratização do Brasil. Em recente comício, o hoje presidente da República, o ex-grevista Lula, voltou a usar aquela expressão para mostrar que chegou o momento da decisão no duro confronto com as elites “branquelas e racistas” nas eleições deste domingo, 1º de outubro.


 



A exemplo das greves no final dos anos 80, estas eleições também serão decisivas para o futuro do Brasil – e, mais do que isto, para a América Latina. No combate à ditadura e na resistência ao neoliberalismo, os movimentos sociais e as esquerdas, com suas virtudes e defeitos, acumularam forças e conquistaram uma vitória inédita na história do país: a eleição de um presidente-operário oriundo das suas lutas. As classes dominantes nunca engoliram esta derrota. Num primeiro momento, tentaram enquadrar o novo governo; depois, partiram para uma cruzada raivosa contra o presidente-operário. Qualquer outro governante teria caído diante deste feroz bombardeio, mas o presidente Lula resistiu, para o desespero das elites.


 



Agora, “chegou a hora da onça beber água”. A tática da direita neoliberal, com apoio ostensivo e ilegal da mídia hegemônica, é evidente: tenta desesperadamente protelar a decisão para o segundo turno, ganhando mais tempo para seu jogo sujo. Com fartos recursos, que a Lei Bornhausen não restringiu, também aposta na eleição de expressivo número de governadores, senadores e deputados, criando o caldo de cultura para desestabilizar o futuro governo. Péssima perdedora e sempre avessa à democracia, as classes dominantes já verbalizam que, sendo derrotadas na urna, tentarão evitar a diplomação do novo presidente; caso este expediente golpista também não funcione, voltarão a bater na tecla do impeachment.


 



Nas históricas greves do ABC paulista, a aguerrida militância operária não se intimidou com os tanques, os brucutus e os vôos rasantes de helicópteros do Exército. Nestes três dias que antecedem as eleições, a militância forjada nestes anos de heróica luta não ficará passiva diante do “bombardeio” das elites e de sua mídia venal. Não ficará em casa como mera expectadora desta batalha de envergadura histórica. Irá às ruas e praças, inclusive no dia 1º de outubro, para alertar os indecisos sobre o grave perigo da regressão neoliberal; irá às ruas e conversará com milhares de eleitores para garantir a reeleição do presidente Lula e a vitória de governadores, senadores e deputados que contribuam para avançar as mudanças no Brasil.