A gestão do Ministério da Saúde como símbolo do bolsonarismo

Cardiologista Queiroga é o quarto ministro da Saúde em um ano de pandemia em descontrole.

A ruidosa gestão do Ministério da Saúde mostra o tamanho da irresponsabilidade do governo Bolsonaro. A substituição do general Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga é fruto de barganha política, não tentativa de buscar uma solução efetiva para o combate à crise sanitária. Bolsonaro segue preocupado apenas com sua reeleição e não mede as consequências para manobrar nessa direção.

O Ministério da Saúde tem sido um dos principais pontos do modo bolsonarista de governar, mas ele é apenas o elo da política deliberada de administrar o país com total irresponsabilidade. A relevância que a pasta atingiu se deve ao avanço da tragédia decorrente da pandemia da Covid-19, que deveria ser, nessas circunstâncias, um catalizador das ações do Estado para enfrentar a situação.

Isso demandaria um esforço concentrado, o ajuste da rota política para fazer todas as forças do país convergirem para o combate à pandemia e aos seus efeitos. O ponto principal teria de ser o Ministério da Economia, a partir do qual os Poderes da República e seus entes em todo o país poderiam organizar suas agendas e enfrentar a dura realidade. Todos os recursos públicos deveriam estar mobilizados para essa tarefa fundamental e imediata. No vértice desse processo estaria o presidente da República, o comandante máximo da nação.

Essa seria a tarefa do governo federal, conforme a interpretação básica da Constituição e do regramento geral do Estado Democrático de Direito. É uma questão de bom senso, para não dizer de comportamento civilizado e de respeito aos direitos humanos mais elementares. Numa definição: o país, vivendo uma situação de calamidade que representa a maior tragédia da sua história, deveria estar mobilizado, em todos os sentidos, em torno desses pressupostos.

As sucessivas crises política no Ministério da Saúde, que passa pela terceira troca de comando em menos de uma ano, é uma espécie de atestado de que Bolsonaro pensa e age exatamente no sentido contrário a tudo isso. A começar por seu manifesto autoritarismo, repetido cotidianamente em palavras e ações. Desde a primeira troca, quando Luiz Henrique Mandetta foi substituído por Nelson Teich, o presidente bradou que ele manda no seu governo, sem mediação.

E mandar, no seu caso, não passa pelo estabelecido na legislação do país, mas por seus pendores autoritários e suas concepções obscurantistas, a ignorância no lugar da ponderação. Foi assim que Pazzuelo chegou ao Ministério da Saúde, uma figura meramente decorativa e serviçal dos ditames de Bolsonaro. Agora, Marcelo Queiroga assume na mesma condição, com o condicionante de ser também representante dos arranjos políticos de Bolsonaro.

Como Pazzuelo, sua missão será a desse figurante da política do governo de não ceder um centavo do “ajuste fiscal” para socorrer o povo e o país, como tem dito sistematicamente o ministro da Economia, Paulo Guedes. A previsão se baseia no fato de que o governo Bolsonaro nunca se moveu na direção de organizar o país, conclamando todas as forças e entes, para o esforço de fazer o país superar as graves consequências da crise econômica, que em grande escala potencializaram a propagação e a tragédia da pandemia.