A força dos trabalhadores toma as ruas de Brasília

O sinal de largada das lutas populares do segundo semestre foi dado em Brasília, com o grande ato realizado hoje (6), liderado pelas cinco centrais sindicais (CGTB, CTB, Força, Nova Central e UGT), com apoio de organizações do movimento social como UNE, MST, Ubes, ANPG, Conam, UJS, UBM e Unegro (a CUT foi convidada, mas preferiu colocar em prática uma agenda própria, com manifestações isoladas).

O Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Agenda dos Trabalhadores foi anunciado no último dia 13 de junho, quando foi divulgada a lista de reivindicações encabeçada pela principal delas, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem diminuição dos salários.

O foco é a mudança na política econômica, com redução da taxa de juros, desenvolvimento com valorização do trabalho, distribuição de renda e fortalecimento do mercado interno. A pauta de reivindicações inclui também o fim do fator previdenciário, a regulamentação da terceirização, a ratificação da Convenção 158 da OIT contra as demissões imotivadas, a regulamentação da Convenção 151 da OIT que reconhece aos servidores públicos o direito à negociação coletiva, salário igual para trabalho igual com combate a todas as formas de discriminação e violência, as reformas agrária e urbana, 10% do PIB para a educação, e a defesa da soberania nacional e autodeterminação dos povos.

É uma pauta extensa, que engloba reivindicações econômicas e também políticas e sociais. Um objetivo imediato é o enfrentamento das pressões, que já começam a aparecer entre setores patronais e conservadores, contra os ganhos salariais.

Como lembrou o presidente da CTB, Wagner Gomes, a movimentação dos trabalhadores exige também a garantia de reajustes reais para os salários e o cumprimento pelo governo do acordo feito com as centrais no sentido de elevar o salário mínimo com base na reposição da inflação mais o desempenho do PIB. Wagner Gomes é taxativo em relação a esta questão: "não vamos aceitar o argumento de que salário gera inflação". Isso é coisa, disse, “de quem não tem percepção política e social", lembrando que os acordos no segundo semestre terão que embutir reajustes próximos a 9% para repetir os ganhos do ano passado.

As lideranças sindicais rebatem o argumento conservador de que a renda dos trabalhadores pode levar ao aumento da inflação, enfatizando a necessidade do fortalecimento do mercado interno, que só ocorre quando aumenta a capacidade de consumo do povo. Este é um fator fundamental para o enfrentamento da crise. E deve ser a base do desenvolvimento nacional, lembra Wagner Gomes.

Os setores conservadores, principalmente os especuladores financeiros, apregoam o dogma da ameaça inflacionária provocada pela valorização da renda dos trabalhadores. É um argumento sem base concreta e científica, que corresponde apenas aos desejos e interesses dos detentores dos ganhos fáceis permitidos pelos juros escandalosos que ainda persistem. Estes setores privilegiados usam toda a influência que têm na sociedade, na mídia hegemônica e mesmo nos corredores do poder, para impor seus interesses.

Contra eles, uma força mais alta pode se levantar: a força da mobilização popular, que ocupa as ruas, proclama suas reivindicações e luta para unir a maior gama possível de forças populares, democráticas e avançadas em torno do fortalecimento do desenvolvimento nacional e defesa da melhoria das condições de vida e de trabalho dos brasileiros.

O ato realizado em Brasília é um passo importante nesse sentido. Ele precisa se desdobar neste segundo semestre, cumprindo o programa de lutas divulgado em junho. É a força do povo, da maioria, às claras e no campo aberto das praças e ruas, que pode vencer a força insidiosa e encoberta dos conservadores, da minoria privilegiada.