A boiada neoliberal do governo Bolsonaro

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes - Foto: Reprodução

A tentativa de governo Bolsonaro de aproveitar a concentração das atenções na pandemia e na CPI da Covid-19 para seguir “passando a boiada” merece atenção. Depois de aprovar na Câmara mudanças na legislação ambiental, praticamente extinguindo o licenciamento, agora fez avançar a reforma Administrativa. O objetivo é desmontar o serviço público, um ataque aos fundamentos do Estado como ente principal da defesa da soberania nacional e da democracia. No caso do combate à pandemia, mais uma vez ficou demonstrado a importância do serviço público.

Nos Brasil sob o bolsonarismo, com o pretexto de que a economia mundial tomou formas mais complexas surgiram teses supostamente amparadas em estudos “científicos”, que são verdadeiras metafísicas econômicas, contendo uma falsa representação do mundo real. É uma moda que faz das teorias conservadoras verdades absolutas para o processo econômico — um comportamento intelectual que enclausura seus “especialistas” em torres de marfim.

A transformação de suas verdades em algo “científico” se dá, no melhor dos casos, em apresentar o evidente em termos complicados, geralmente por meio do uso de instrumentos teóricos de análise absorvidos sobretudo da escola neoliberal. É óbvio que tal prática deforma a natureza dos reais problemas da economia brasileira. Os números são manipulados a todo instante com a finalidade de desqualificar a importância do Estado no processo de aceleração dos ritmos do desenvolvimento econômico.

Essas verdades “universais”, essencialmente construídas para proporcionar equilíbrio nos centros de origem das crises, são desligadas da vida real dos países pobres. Elas não servem para definir a alma dos problemas nacionais: desenvolvimento econômico, melhoria dos níveis de renda, investimentos e consumo. A hegemonia que essas teses angariaram decorre do fato de que toda a ciência econômica tem, falando no sentido social, profunda base partidária. Ou seja: as interpretações econômicas correspondem a um jogo de disputa ou defesa de posições.

Atrás das cifras estereotipadas, das fórmulas matemáticas sem matéria, escondem-se os fenômenos humanos — os contrastes da sociedade dividida em classes e camadas sociais, a diversidade de problemas e necessidades regionais. Na realidade, o desenvolvimento econômico é um processo desigual, no sentido geográfico e social. E isso nega frontalmente a análise econômica pela utilização dos números “macros”, com o abandono dos contrastes.

Os salários e os lucros, por exemplo, devem ser vistos como duas formas antagônicas de renda. E um jeito de manipular esse conceito é tratar do assunto em termos de renda per capita — uma fórmula frequentemente utilizada para apregoar melhorias dos padrões de vida no Brasil.

Essa técnica corresponde à mera figura estatística, e nem de longe reflete um fenômeno de riqueza social porque não leva em conta o caráter antagônico dos salários e dos lucros. Aqui está o ponto central da disputa, que para ser favorável ao país e ao povo precisa ser vencida pela lógica da retomada do crescimento econômico, com desenvolvimento e progresso social.