A esquerda bem informada
A esquerda bem informada

Paulo Tedesco

Escritor, consultor e professor de produção escrita editorial
É preciso resistir ao Estado mínimo

Não resta dúvidas que temos que resistir. E resistir, no mundo do livro, é o mesmo que fincar pé nas coisas simples e cotidianas, entre elas a defesa da cultura laica e pacífica, mas principalmente universal e acessível. E para isso, num país pobre feito o nosso, com tantas divisões sociais, tantos abismos, a presença do poder público é mais do que essencial, é indispensável.

Um fausto amante

O primeiro contato com um livro: perceber sua capa, seu formato, seu tamanho. Depois, com o toque, seu peso e sua densidade que, juntas, suas páginas, na mão ainda hesitante, quase em carícia, podem provocar o toque fugidio e ligeiro. Porém um toque.

É o digital, mané

Por mais que se comente sobre a tal crise da leitura, ou, para alguns, a do consumo de livros, parece que há mais do que situações pontuais de mercado do que querem nos fazem crer. Um algo para além dos os números e das perspectivas e possibilidades do livro e da leitura.

 Autobiografias e biografias, relicários da memória

E por que não falar em memória? Por que não falar em reproduzir nossas memórias e recordações para nossos filhos e netos? Por que não contar, como diz o hino do Rio Grande do Sul, nossas faças para a toda a terra, sempre cantado a todo pulmão antes dos jogos de futebol? Por que não levar adiante, por vezes num esforço último de vida e de lembrança, nossas mais significativas recordações, espécie de monumento de nós mesmos numa sociedade cada vez mais massificada e estandartizada?

O autor e o escritor raiz

Entre os mais diversos debates, nessa onda de se autopublicar, ganha cada vez mais relevo o que é ser escritor e sua relação com a autoria. Como há um grande número novos autores atirando seus originais para todas as direções, e todos, quase sem exceção, sonham com a redenção de uma vida de escrita e de direitos autorais, o assunto pede reflexão.

 Ficção contra o fascismo

É a ficção que sustenta o mundo. A boa ficção, é que, a contragosto dos que pregam a não funcionalidade da arte, de qualquer arte, resolve os verdadeiros dilemas da humanidade. É ela que hoje impede que vivamos num mundo somente de radicais, onde qualquer tipo de sectarismo, em qualquer esfera tenha, sempre, quem combata, quem resista à radicalizações e perigosas generalizações.

Obstinatum Rigore

O termo latim “Obstinatum Rigore” ou “rigor obstinado” é cláusula irrevogável de um bom trabalho. A ausência de rigor num texto de qualquer área pode condenar de imediato o que poderia vir a ser uma boa obra, e nesses tempos de avalanchas de conteúdo, perder um leitor, ainda que alguém mais tolerante, não é um tipo de luxo dos mais recomendados.

Liberdade e respeito

Devemos falar em digital, em livro digital, e que soa quase heresia quando não falamos apropriadamente em leitura digital e da crise do acesso ao livro e do conteúdo. Pois aí é que reside o grande paradigma do início do século XXI, não há dúvida: decifra-me ou devoro-te, compreenda-me ou te consumirei para todo o sempre, por sua apressada prepotência e infeliz escolha.

O Doutor Capitão Pelino dos nossos tempos

O Capitão Pelino é um dos bons personagens de A Nova Califórnia, conto de Lima Barreto, autor homenageado com justeza na próxima edição da Festa Literária de Paraty (Flip). Nessa história, ao meu ver, ele representa, de forma paradigmática e sintética, muito da atitude de uma parte da academia e dos críticos literários brasileiros para com novos autores e as novas formas de literatura.

A arte do conto na política

Que conto maravilhoso foi esse o da recente eleição norte-americana de 2016. Apesar de toda a informação disponível na atualidade, de todo o jogo e troca de opiniões entre grandes empresas e governos no globo, o candidato mais improvável, da mais rica e armada nação, se elegeu sem deixar espaços para questionamentos e recontagens.

A gravidade do golpe

O recesso nas compras governamentais no mercado editorial, ainda no último governo Dilma, e que prometia ser passageiro, provisório, nesse atual, fruto de um golpe jurídico-midiático, caiu na mais absoluta imprecisão, com a descontinuação de alguns programas e a reativação temporária de outros, como o PNAIC. Ou seja, tudo aqui se tornou provisório, deixando claramente para barganhas políticas importantes decisões, e não para estratégias que pensem no livro e no leitor como fim último.

É melhor alterar, sempre 

Pois fico impressionado com a desfaçatez e a sem-cerimônia com que hoje se vende o passaporte para o sucesso, sem qualquer respeito com o que possa vir a provocar na carreira de um autor. E falo observando esse concurso que a gigante Amazon, em conjunto com a Nova Fronteira, apresentou e anda com as inscrições em aberto.

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