Se é verdade que podemos medir a grandeza e a humanidade de uma civilização pelo modo como são tratadas as crianças, o símbolo do colapso do mundo ocidental globalizado foi exibido na foto do corpo de uma criança, um menino sírio de três anos, encontrado em uma praia da Turquia em setembro de 2015.
No momento em que o Brasil está em vias de entrar novamente para o mapa da fome, a criminalização da pobreza e a desqualificação moral dos pobres aparece com força no cenário social e político do país.
A quase total paralisação do país, provocada pela greve dos caminhoneiros, expõe o desgoverno do Estado brasileiro. Já tendo inscrito seu lugar na história como um dos maiores movimentos de trabalhadores, a greve que conta com um alto índice de adesão da categoria e apoio popular extrapola o âmbito específico de uma pauta localizada em um interesse corporativo e expõe a inépcia do governo golpista e a fragilidade de seu danoso projeto de poder.
Para quem ainda considerava que a ditadura imposta ao Brasil entre os anos de 1964 a 1985 foi uma ditadura “branda”, os documentos do Departamento de Estado norte-americano acessados pelo pesquisador brasileiro Matias Spektor não deixam dúvidas sobre os horrores praticados pelos governos militares, quando a execução sumária foi alçada à condição de política de Estado juntamente com as prisões, a tortura, o banimento e os desaparecimentos.
Alguns livros, mesmo tendo ultrapassado mais de um século desde que foram escritos, continuam a surpreender por sua atualidade e abrangência.
Para quem ainda acreditava que mesmo após o golpe de 2016, o Brasil ainda vivia sob a “normalidade democrática”, com o “pleno funcionamento das instituições”, a sessão do STF (Supremo Tribunal Federal) ocorrida no dia 4 de abril último, para julgar o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente Lula, representou o fim das ilusões.
O assassinado da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes, é um daqueles fatos que nos desperta tristeza e indignação. Não por seu ineditismo ou excepcionalidade, mas por revelar de forma crua, inequívoca, o que se tornou o Brasil: um país onde o ódio tem colocado em risco não só a democracia, mas qualquer esperança civilizatória.
Uma das mais belas cenas do filme “O Jovem Karl Marx” do cineasta haitiano Raoul Peck é aquela que mostra um possível diálogo entre Jenny Marx e Friedrich Engels onde ela diz “não há felicidade sem revolta”.
A intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro vem configurar mais um episódio de bizarrices protagonizado pelos golpistas que se apropriaram do país. Contraditoriamente, trata-se da iniciativa de um presidente ilegítimo que enfrentou duas denúncias de corrupção e organização criminosa, o que já seria suficiente para questionar o decreto que regulamenta a intervenção federal na segurança pública naquela unidade da federação.
Um dos traços marcantes do atual momento social e político e que tem sido objeto de preocupação em vários países é o ressurgimento da chamada ultra-direita. Basta um breve olhar sobre o cenário nacional e internacional e poderemos constatar a ascensão de indivíduos e grupos que vociferam o ideário conservador e, em alguns casos, de caráter abertamente proto-fascista.
Às vésperas do julgamento do recurso contra a condenação que o ex-presidente Lula recebeu em primeira instância, a sociedade brasileira talvez ainda não se tenha dado conta da gravidade que este fato representa em termos de ameaça à democracia. Isto porque sendo aparentemente um rito jurídico, esconde a danosa substituição da vida política pelo espaço restrito das decisões judiciais.
Na medida em que o capitalismo avança em suas contradições, utiliza como um dos recursos para manter inalteradas suas condições de reprodução, a ampliação da barbárie sobre pessoas, povos e nações.