“Meus filhos, o que eu desejo do fundo do meu coração é que vocês saibam que não precisam se enquadrar em caixa alguma e que não precisam seguir a cabeça de ninguém, nem mesmo a minha.”
À princípio não soube bem o que fazer com essa pergunta, mas gostei do fato dela possibilitar que eu me distanciasse, mesmo que brevemente, dos medos e das necessidades de agora e dirigisse o meu olhar para o futuro próximo
Eu não vou mentir, modificar como vivenciamos as nossas masculinidades e paternidades e, consequentemente, como nos relacionamos com as mulheres não é uma tarefa simples.
Neste dia dos pais o meu filho terá dois anos e 11 dias. Pode soar estranho, mas às vezes eu tenho dificuldade de lembrar dele recém nascido; parece que ele sempre foi assim, um menininho pequeno, danado e falante. Por vezes também tenho dificuldade de lembrar como eu era antes dele nascer. O que sei é que algo mudou profundamente com a chegada de Francisco. E ao mesmo tempo, nada mudou.
Nem moeda antiga, muito menos o magistral camisa 8 do Cruzeiro, o tostão das minhas memórias de criança era uma versão daquele muitas vezes aplicado em partidas de futebol, quando um jogador atinge a coxa de um adversário com o seu joelho.
Sinto que devo uma explicação às três ou quatro pessoas que notaram que o meu último texto foi publicado no hoje longínquo dia 26 de fevereiro. Bem, para começar eu poderia falar dos trágicos acontecimentos que têm assolado o nosso país – por exemplo, a execução da vereadora do PSOL Marielle Franco e de Anderson Gomes – e de como eles têm feito muita coisa parecer pequena e sem importância, incluindo os meus rabiscos sobre paternidades.
Quando escrevi o primeiro texto desta coluna Francisco ainda era um pingo de gente de menos de dois meses que exigia toda a nossa atenção e pouco nos dava em retorno. Hoje, com seis meses e meio, ele exige ainda mais, a diferença é que agora ele retribui a nossa dedicação e amor com um repertório de risos, gestos, falas e caras que cresce numa velocidade espantosa e provoca uma onda de encantamento sem fim em mim e em minha parceira, Carol.
Este é o meu oitavo artigo e, diferente dos outros, escrevê-lo me trouxe pouquíssimo prazer. Há duas semanas que pelejo com ele, teclando uma frase rancorosa aqui, outra raivosa ali, uma meio depressiva acolá…
Não me senti pai quando descobri que a minha parceira estava grávida. Chorei copiosamente, mas não me senti pai. Tampouco após o primeiro ultrassom, quando ouvimos o seu acelerado coração. Os primeiros movimentos, que são quase imperceptíveis, como uma borboleta batendo asas, causaram euforia e os primeiros “chutes” então… mas nada do tal “sentir-se pai”.
Estava aqui matutando em como escrever um texto sobre paternidade em pleno período de férias e a poucos dias do Natal e ainda assim conseguir a atenção de ao menos meia dúzia de amigos e amigas, quando pensei: “Só tascando Papai Noel logo no titulo!”. Apelativo? Sim, um pouco, mas é por uma boa causa e além disso, o uso do “bom velhinho” não é totalmente gratuito.
O relatório “A Situação da Paternidade no Mundo”, lançado em 2015, é aberto com uma frase curta e direta: “Pais são importantes”. No contexto das políticas públicas e das ações programáticas governamentais e empresariais, alvo principal do relatório, essa mensagem pode representar algo novo e abrir caminho para importantes desdobramentos. Já no plano individual, acredito que ela apenas “chove no molhado”.