Valores na guerra e na paz

Ao tomar posse no Ministério da Defesa, assumindo a coordenação da Marinha, Exército e Aeronáutica, surpreendi alguns ao fazer referências a valores humanistas em paralelo a aspectos militares. Se de guerras estamos cheios (e justamente por isso não podemos fingir que vivemos em ambiente de paz e desdenhar a Defesa Nacional), em nossos dias se impõe um contraponto com a escassez crescente de valores humanistas.

Como observei, o poeta maranhense Gonçalves Dias, no belíssimo poema Canção do Tamoio, sintetizou a batalha renhida dos homens pela dignidade da vida como um valor na “guerra e na paz”: “Viver é lutar”. Há quem identifique nesses versos, escritos logo após a Independência de 1822, e considerando a orientação nacionalista do autor, um projeto de nacionalidade.

A inspiração que nos orienta para o presente é o cotejo com a evidência de que o mundo hoje tende a consagrar o lema “viver é consumir.” Marcha-se para extremismos de individualismo quase tribal, pois encerrado em nichos de mercadorias de consumo cultuadas como se constituíssem o sentido da vida. Desse fenômeno se pode dizer: “Se consumo, logo existo.”

Na ocasião também sublinhei que as instituições militares permanecem como um centro de valores indispensáveis à construção e conservação de uma sociedade. Não há tropa armada em nenhum sistema, regime, em qualquer época, que sobreviva sem coesão, unidade, disciplina, hierarquia ou o espírito de camaradagem que é comum na caserna. Todo soldado sabe que faz parte de uma cadeia de comando e solidariedade que o apoia nas horas difíceis.

A Nação também depende desses valores. As diferenças clássicas, que muitas vezes movimentam a roda da História com rupturas e revoluções, não conflitam com esses princípios. A ameaça vem da fragmentação, da dispersão, que aniquilam a vontade coletiva nacional de superar desafios num mundo marcado por disputas e forças tão desiguais entre nações poderosas e nações frágeis.

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