Unidade, bandeira da esperança!

Construir unidade entre forças políticas e sociais não é e nem nunca foi tarefa fácil. A história do movimento comunista e socialista no mundo é cheia de exemplos, tentativas e fracassos quando se observa tais intenções. É óbvio que ao longo da história há exemplos também de sucessos na empreitada de unir as forças em torno de objetivos comuns. Mas tais processos sempre tiveram como consequência o tempo menor do que o necessário para se conquistar ou mesmo consolidar tais objetivos.

Sempre em algum momento, por vezes antes de ter tais tarefas concluídas algumas divergências, equivoco ou erros, estimulou ou estimulavam, o fim da tal unidade.

Os agrupamentos políticos e partidos de inspiração leninista adotam um método interessante e por vezes eficaz, que é o método do “Consenso Progressivo”. Refiro, no caso, ao método que não pode e nem deve ser confundido com o princípio do “Centralismo Democrático”, mas que deriva de certo modo dele e dialoga positivamente com este.

O Consenso progressivo é construído segundo alguns critérios:

-Confiança e Respeito.
-Sincero comprometimento com a busca pela convergência, ou seja da ênfase ao que une e não ao que desune.
-Consenso não unanimidade.
-Consenso não pode jamais ser confundido com indefinição. Decisões precisam de -prazo para acontecerem, nem que seja apenas a decisão possível naquele momento.
-Consenso pressupõe explicitação da divergência e não escamoteamento.
-Consenso progressivo implica em ceder e consentir (com + sentir– sentir em conjunto) A pessoa pode não concordar com a decisão, mas se perceber que aquele caminho é o melhor para a coesão do grupo, ela consente e depois avalia, sabendo que haverá coragem, inclusive, para se voltar atrás.

Algumas entidades e instituições dos chamados movimentos sociais deveriam utilizar este método. Ocorre que, com raras exceções as entidades de tais movimentos ou são partidarizados ou terrivelmente anti-partidarizados o que, embora se reivindicando politizados, terminam por subordinar a necessária busca por unidade aos espaços de grupos que disputam até quem coordena os atos, quem fala, quais faixas e quem ocupa o lugar mais a frente, etc. No fundo tornam os objetivos ditos comuns em coisas secundárias, artificializando por completo a luta natural pela hegemonia.

Não quero e nem tenho condições neste curto artigo de aprofundar exemplos e dar detalhes compilados ao longo de mais três décadas de militância ininterrupta em movimentos negro, religioso, social e político. Entretanto a história recente da luta dos capoeiristas é um exemplo de como a divisão ocorre sem motivos substantivos nenhum. Às vezes vaidades e inveja, além dos ciúmes são a base para argumentos, críticas e acusações que tem como objetivo simplório desconstruir lideranças e dividir nem que para isso tenha que se jogar para derrotar o movimento e impedir o sucesso da luta. Assim ocorre em outras áreas da política e da vida militante.

Sempre tem um ponto de vista diferente, uma desconfiança estimulada, uma divergência pontual que amplificada por sentimentos e estímulos de terceiros terminam por jogar por terra lutas de anos.

Ao analisar, por exemplo, a história do samba, o escritor e sociólogo Reginaldo Prandi, destaca que até nele a divisão é latente e tem raízes históricas. O samba, segundo ele, começa nos terreiros e por influência deles. Mas já lá pelos anos 20 e 30 do século passado, com a ascensão do Noel Rosa, há uma tentativa de desvincular uma coisa da outra. E a música “Feitiço da Vila” seria um marco neste processo que perdura até hoje.

A criação do samba, ligada a essas religiões de matriz africana, era, noutro momento, uma espécie de veículo para a cultura negra conquistar mais espaço no país.

Em um primeiro momento o Candomblé significou exatamente o contrário. Sendo uma forma de simbolicamente recuperar a origem perdida. Contudo ele apoia sua compreensão de que a divisão no movimento negro e em suas rodas (Capoeira, Samba e Candomblé) reside na nossa origem africana.

“A família africana – destaca o Dr. Prandi – tradicional era poligâmica. Um homem se casava com muitas mulheres. O chefe de família tinha poder de vida e de morte sobre mulheres e filhos. Ele era o único proprietário da terra e administrava a forma como a família cuidava da economia. A casa dele chegava a ser uma verdadeira vila. Ele morava na casa principal e, a cada nova mulher, construía-se um novo cômodo para ela e os filhos. Quando esse chefe morria, não existia o princípio da primogenitura. Ele é que nomearia em vida, um filho para dar prosseguimento. Assim havia uma verdadeira guerra entre as esposas para que o filho dela fosse chefe da família, porquê a mãe do chefe tinha um papel muito importante e chegava a controlar as mulheres da família. Outra coisa importante é que cada família se considerava descendente de um orixá determinado. Além disso cada um herdava um orixá secundário que vinha da mãe. Os irmãos, portanto, podiam ter o mesmo orixá por parte de pai, mas orixás diferentes por parte de mães”.

É óbvio que ele se refere ao seu estudo importante sobre as divisões no candomblé, contudo é interessante ver as pistas que surge em tal estudo.

Na verdade está rápida digressão teve o intuito de reforçar a opinião que tenho que a nossa divisão, muitas vezes originadas por coisas secundarias, tem como base uma cultura atrasada baseada no estimulo ao individualismo e competitividade, valores difundidos e estimulado gerações após gerações pelo sistema capitalista e seus instrumentos para dividir-nos por séculos.

Construir a unidade, portanto, é tarefa hercúlea, mas deve ser objeto permanente daqueles que sonham e lutam por um mundo melhor.

A bandeira da esperança segue sendo a unidade dos povos do mundo.

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