Tamanquinhos novos de hormônios

O kit de implante de contraceptivos hormonais subcutâneos
e a mão-de-obra custam entre R$ 1.400 a R$ 2.000.
Quem banca a caridade?

No último mês, os meios de comunicação caíram, acriticamente, na versão moderna do “canto do cisne” do Instituto Mulher Consciente (IMC), Oscip criada há cinco meses que doou à Prefeitura de Porto Alegre implantes contraceptivos hormonais subcutâneos que agem por três anos.


 



Os implantes hormonais destinam-se a 5.000 mulheres adolescentes, na faixa de 15 a 18 anos, com “vulnerabilidade social de qualquer natureza” e domicílios em bairros pobres com alta concentração de afrodescendentes.


 



O público do programa “Adolescência: um projeto de vida” foi definido pelo critério Rosa de Hiroshima: mudas, telepáticas, cegas, inexatas, rotas e alteradas. O kit de implante e mão-de-obra custam entre R$ 1.400 a R$ 2.000.


 



Quem banca a caridade do IMC? Relembro a teoria dos tamanquinhos novos, estratégia para abolir a gravidez inesperada e/ou indesejada na adolescência: “Já viu na feira como é que vendem um par de tamancos? Bem amarradinho um pezinho no outro.


 


 


Elas ganham os tamanquinhos novos para usálos um pé amarradinho no outro. Aí não abrem as pernas e não ficam grávidas!” (Fátima Oliveira, “Tamanquinhos novos”, O TEMPO, 30/8/2006). Para a ginecologista Lízia Maria Mota, “o principal critério é a vulnerabilidade social”.


 


 


“Algumas meninas já estão prétriadas; temos uma fundação de assistência social com algumas candidatas em abrigos, albergues, meninas de rua. Essas são nossas prioridades.” Como age o implante?


 


 


Não difere dos demais métodos hormonais. É a arte de tapear a hipófise: o hormônio artificial ministrado inativa o setor da hipófise que secreta os estimulantes dos ovários. O X da questão é o tempo de inatividade que o implante submete a hipófise jovem (três anos!).


 


 


A mulher não se ressente dessa inatividade de parte da hipófise e dos ovários, pois os hormônios sintéticos suprem a “cota hormonal”. Hipófise e ovários, após longos períodos de repouso forçado, voltam a funcionar?


 


 


Considerando- se que a ciência ainda não sabe em quanto tempo e em quantas doses um hormônio é danoso, é ético ministrá-los continuamente por três anos em jovens?


 


 


O IMC tem por finalidades: “promover e/ou participar de pesquisas clínicas, envolvendo seres humanos, de métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos comprovados, tornando-os mais eficazes”.


 


 


O IMC é uma Oscip de pesquisa biomédica em adolescentes. O resto da camuflagem é perfumaria.


 


 


Por reconhecer o direito de adolescentes à contracepção voluntária e segura; ao exercício de uma sexualidade prazerosa; e de evitar uma gravidez quando não desejam, urge que o Estado brasileiro assuma plenamente a responsabilidade de defesa do direito à saúde e à contracepção segura de suas cidadãs jovens, pois o projeto do IMC nada mais é que uma pesquisa clínica que atenta contra os direitos humanos de uma população vulnerável.


 


 


Recorrendo à ética da responsabilidade na assistência e na pesquisa em saúde, temos o dever de explicitar que, a bem da verdade, o IMC desenhou uma política populacional de controle de natalidade, materializando- se assim a teoria dos tamanquinhos novos… só que de hormônios.


 


 


O que o IMC realiza é uma pesquisa com uma bomba hormonal contínua. O fato de a ciência não saber o que ocorrerá com as usuárias é a questão ética central.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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