Sobre extinção, socialismo e futuro…

“Mais do que uma necessidade histórica, o socialismo se apresenta como um imperativo para a sobrevivência da espécie.”

Desde o surgimento da vida no planeta Terra, duas verdades parecem incontestes: a adaptação e a extinção. De todas as espécies que já se apresentaram no palco da existência terrena, mais de 90% estão extintas. Variando enormemente seu tempo de permanência, é certo que a maioria das formas de vida se extinguiu e novas espécies evoluíram, ocupando o lugar de suas predecessoras. Toda a diversidade da vida que hoje presenciamos é uma ínfima amostra do catálogo de experiências que a natureza já produziu.

Fato pouco divulgado em nossos duros bancos escolares, talvez por vaidade ou negação inconscientes, é que dentro do gênero homo essa regra elementar prevalece. Várias espécies humanas foram extintas, ao longo de nossa aventura evolutiva: Homo habilis, H. ergaster, H. erectus, H. heidelbergensis, H. neanderthalensis, Homo naledi e H. floresiensis, para citar algumas. Não é redundante lembrar que são todas espécies humanas, que compartilhavam muito das características encontradas no Homo sapiens, a nossa espécie.

Ainda mais estarrecedor é o fato de que, algumas dessas espécies conviveram com a nossa durante milhares de anos, compartilhando muitas das características físicas e comportamentais. Por volta de 30 mil anos, dividiam conosco o planeta pelo menos três outras espécies de hominídeos: os neandertais, os denisovanos e os floresiensis. Como seriam nossas sociedades se essas espécies não tivessem desaparecido? Se o preconceito e o racismo já causam estragos monumentais no seio da nossa própria espécie, o que esperar da convivência entre espécies diferentes? É inevitável pensar se não tivemos algo a ver com a extinção desses nossos parentes tão próximos.

O que fica evidente é que, independentemente de como se deu esse processo, após adentrar no que podemos chamar de nicho cognitivo, o Homo sapiens prevaleceu e se tornou o último remanescente do gênero humano. Produção de ferramentas, recursividade na linguagem, domínio do fogo e do cozimento de alimentos, abstração, antevisão, trabalho e transformação planejada da natureza, transmissão cultural do conhecimento, escrita, dentre outras características, fizeram de nossa espécie demiurgo do planeta.

Entretanto, essa trajetória, recente quando comparada com o tempo geológico e evolutivo, carrega uma dualidade prenhe de potenciais auspiciosos e trágicos. Somos uma espécie gregária, que logrou êxito dado seu comportamento altruísta. Por outro lado, também carregamos uma elevada carga de egoísmo que, levado às últimas consequências, pode conduzir a espécie ao abismo da auto aniquilação. Como enfrentar esse paradoxo?

Socialismo, mais do que uma necessidade histórica

Os seres humanos, portadores dessa dualidade intrínseca, altruísta/egoísta, dada à sua capacidade única de modificar, com notável grau de consciência, a realidade planetária, têm hoje o possibilidade de pavimentar o caminho para uma existência coletiva calcada no progresso científico, social e econômico. Por outro lado, podem devastar as condições de habitabilidade no planeta e comprometer a viabilidade de sua própria existência. A diferença se encontra na compreensão da necessidade de economias planejadas, racionalizadas, ancoradas na nossa capacidade de antevisão, estabelecendo como eixo principal o bem-estar coletivo e o afloramento pleno das potencialidades humanas benéficas.

O capitalismo teve importância crucial para o desenvolvimento humano, libertou as forças produtivas que se encontravam estagnadas, possibilitando grande desenvolvimento científico, tecnológico e social. Entretanto, completada sua fase revolucionária, rapidamente instalou no poder uma classe opressora, que reproduz suas condições de existência a partir da exploração do trabalho alheio, da exploração da classe trabalhadora.

Necessitando expandir permanentemente sua margem de lucro, o capital explora vorazmente toda forma de recursos naturais e humanos. Por se tratar de um sistema inerentemente irracional, onde cada ator da classe dominante procura superar seus concorrentes no plano imediato, não há espaço para planejamento de médio e longo prazo. A racionalização do sistema é impraticável – daí a recorrência das crises estruturais.

Para além disso, a lógica da competição desenfreada contamina toda a sociedade, reforçando uma das pontas da referida dualidade humana, a egoísta. Cria-se um estado de permanente desconfiança e individualismo, dificultando a busca por soluções coletivas. A partir dessas constatações, que não pretendem encerrar em si toda a complexidade da discussão, podemos estabelecer alguns critérios para a efetivação de uma alternativa viável.

Os avanços científicos e tecnológicos, além de possibilitarem o acesso às conquistas elementares da humanidade, como alimentos, medicamentos, moradia, transporte, cultura, educação e segurança permitem novas formas de planejamento e de participação política. A socialização do conhecimento e das informações podem estabelecer um debate público de alto nível,  em escala e qualidade jamais testemunhado pela humanidade – alcançando um patamar mais elevado na concepção e prática da democracia. Além disso, as ameaças que sempre pairaram sobre a existência da vida no planeta, como mudanças climáticas, asteroides, vulcanismo e patógenos não serão enfrentadas, sem o estabelecimento de uma verdadeira solidariedade global.

A partir dessa perspectiva, a única proposta viável que se apresenta, com vistas a superar essas contradições e desafios é a alternativa socialista, que traz em si as sementes de uma nova convivência humana. Construir um ambiente social que favoreça relações coletivas e altruístas, pode ser o diferencial entre um futuro caótico ou promissor. Não se trata de determinismo ou de inevitabilidade. Mais do que uma necessidade histórica, o socialismo se apresenta como um imperativo para a sobrevivência da espécie.

O exemplo chinês

Dessa forma, podemos observar com otimismo alguns indicativos da experiência do socialismo com características chinesas, que se revestem de interesse para a discussão aqui desenvolvida. Citemos, brevemente, quatro deles:

Planejamento: o planejamento social, econômico e político na China procura maximizar a racionalidade do sistema, antevendo gargalos estruturais e apontando soluções integradas com as metas de desenvolvimento e bem-estar de sua sociedade, levando em conta questões ambientais e de sustentabilidade;

Ciência e tecnologia: utilização sistemática das inovações tecno-científicas como substrato para a estruturação dos projetos antevistos e na busca de soluções para as contradições do desenvolvimento em curso;

Política externa de soma não-zero: lançando mão de uma política externa ganha-ganha, o país estabelece um cenário não beligerante, sem práticas de dominação imperialista, como intervenções e guerras. Abre caminho para o multilateralismo e busca de soluções globais conjuntas;

 “Existe apenas uma Terra e um futuro compartilhado para a humanidade”: com essa palavras, o presidente chinês Xi Jinping, finalizou sua participação no Evento Virtual da Agenda de Davos do Fórum Econômico Mundial, em 25/1, reforçando a necessidade do reconhecimento da diversidade humana e da valorização do multilateralismo, sem os quais, provavelmente não estaremos aptos a permanecer enquanto espécie.

Assim, é possível vislumbrar as práticas e valores que, se implementadas, podem contribuir para a extensão do período de existência da nosso espécie – nossa adaptação. Nada garante que as ações no presente redundarão no desenvolvimento e na permanência dos seres humanos. Entretanto, a inação nos coloca em uma perspectiva bastante tenebrosa – nossa extinção.

A vida na Terra já vivenciou cinco extinções em massa:

Extinção do Ordoviciano

Quando: há 445 milhões de anos

Desaparecimento das espécies: 60-70%

Extinção do Devoniano

Quando: há entre 360 e 375 milhões de anos

Desaparecimento das espécies: até 75%

Extinção do Permiano

Quando: há 252 milhões de anos

Desaparecimento das espécies: 95%

Extinção do Triássico

Quando: há 200 milhões de anos

Desaparecimento das espécies: 70-80%

Extinção do Cretáceo

Quando: há 66 milhões de anos

Desaparecimentos de espécies: 75%

Extinção Holocênica

Quando: ?

Desaparecimento de espécies: ?

Desaparecimento do Homo sapiens: ?

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