Rússia, 2018

O 8 de julho de 2014, amigos, será, para a História, uma data paradoxal: por um lado, foi um dia que não aconteceu; por outro, foi um dia para sempre. Explico. Não aconteceu porque não é representativo de nada, muito menos do futebol brasileiro e do nosso santificado manto, do Santo Sudário amarelo que o Brasil enverga em campo. Eternizou-se também por isso: jamais se repetirá.

Por incrível que pareça, amigos, perdemos para a maior qualidade dos nossos craques, o coração. Nosso time é um coração que não cabe no peito, é um sentimento com corpo, e não o contrário.

Quem viu o menino Davi Luiz ontem entende o que digo. Aquele choro sentido diz tudo. É o choro do ofendido, do vilipendiado, do injustiçado. Não que tenhamos jogado bola para outra coisa, longe disso. Mas os nossos rapazes definitivamente não mereciam e são bem maiores do que tudo aquilo. E não só. Felipão e Parreira também são. Não tenho vergonha da seleção nem do meu país. Tenho vergonha de quem diz ter vergonha.

E até meu cão, o Nogueira, sabe de uma verdade irrefutável: quem se entrega de corpo e alma erra e erra muito. E está sujeito a tudo, para o bem e para o mal.

O que gostaria de dizer para os meninos é que a hecatombe de ontem, por doída e humilhante que tenha sido, não apaga o amor deles ao país. Amor bonito, não desses inventados. Coisa que ensina muito para muita gente, gente que odeia o próprio país, que cospe no espelho – gente que é incapaz de um gesto de nobreza, que se vê como "consumidor" do Brasil, assim como acha que é possível um futebol para o "consumidor".

Acho que o ensinamento da terrível tarde ficará na memória: na bola, assim como na vida, amigos, ninguém tem obrigação de nada, a não ser lutar. E isso os nossos fizeram, contra tudo e contra todos, ao admitir a pressão insuportável, ao não ter o direito de errar, ao não poder sequer chorar.

Depois do terceiro gol, sabia que era irreversível a derrota. Decidi que estou firme e forte com a amarelinha rumo ao hexa, na Rússia, em 2018. Moscou que me aguarde pois vou com sede.

Seleções menores ganham em casa

Desde que não se amarra mais cachorro com linguiça, 1970, a regra é mais dificuldade para quem sedia a Copa. Basta olhar: Brasil, Itália (90) e Alemanha (2006) sediaram e perderam; França (98) e Argentina (78) venceram roubado, principalmente no famoso caso da Copa realizada na zona sul de Porto Alegre. Detalhe: nem os sem-banho que passam perfume e nem os cabeludos pretenso-europeus tinham ganho a taça. Alemanha, 74, é coisa da Guerra Fria.

Parêntese 1: Por ridículo que pareça agora, Felipão estava certo em sua formação original – Daniel Alves e Paulinho eram mais bola que Maicon e Fernandinho.

Parêntese 2: Tiago Silva, nosso capitão que comete o pecado de chorar, fez tanto ou mais falta que Neymar ontem.

Parêntese 3: Nenhum país, jamais, igualará essa Copa. Como disse um amigo meu: bem organizada, fabulosamente jogada e com um toque que só o Brasil tem – essa maravilha inexplicável que é o nosso povo.

Finalmente: Desculpem alongar muito, mas para quem chegar até aqui, deixo a música que para mim simboliza o dia: "Levanta a Cabeça", gravada por Bezerra da Silva pós eliminação de 82: http://www.youtube.com/watch?v=TcSUnjPpb_Q

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