Rejeitado, PFL oculta o liberalismo

Por unanimidade e sem estardalhaço, a executiva nacional do Partido da Frente Liberal (PFL) aprovou no dia 8 passado a mudança do nome desta agremiação conservadora – que será chamada, a partir da convenção do final de março, de Partido Democrata. No mesm

Estas mudanças de impacto, que curiosamente tiveram tímida repercussão na mídia, refletem as transformações recentes na política brasileira, com o debilitamento das forças conservadoras. O PFL, que teve sua origem na antiga Arena, partido da ditadura militar, já gozou de enorme poder no país. Como uma força conservadora e fisiológica, ela transitou da ditadura para a democracia, ocupou postos-chaves em todos os governos deste período (José Sarney, Itamar Franco, Collor de Mello e FHC) e tornou-se um dos principais expoentes dos dogmas neoliberais.


 


Encolhimentos e fraturas


 


Em conjunto com o PSDB, expressão do chamado rentismo moderno, o oligárquico PFL montou um poderoso bloco liberal-conservador que hegemonizou a política nacional a partir dos anos 90. Ele bancou a privataria do Estado, a redução dos investimentos sociais, a desnacionalização da economia e a regressão dos direitos do trabalho. Com a vitória do campo popular-democrático em 2002, entretanto, este bloco passou a sofrer sensível encolhimento e, também, várias fraturas.


 


No ano passado, o PFL foi rejeitado nas urnas e teve o pior resultado entre os chamados grandes partidos. Velhos caciques, que governavam como latifúndios alguns estados do Nordeste, foram escorraçados, com destaque para ACM na Bahia. O partido elegeu somente um governador, no Distrito Federal, que não tem maior familiaridade partidária. Também retrocedeu nas eleições parlamentares. Para piorar, dos 65 deputados federais eleitos em 2006, cinco já debandaram do partido e outros sete prometem seguir o mesmo caminho, preferindo as benesses de ser governo.


 


Além destes baques, o PFL sentiu-se traído por seu maior aliado, o PSDB, nas eleições passadas. Em vários estados e mesmo na recente eleição para a presidência da Câmara Federal, ele sinaliza que deixará de ser um mero apêndice dos tucanos e que reforçará a sua fisionomia própria, como um partido nitidamente de direita. Ele já anunciou que disputará varias eleições majoritárias em 2008, inclusive na capital paulista, com o fascistóide Gilberto Kassab, numa nítida estocada no PSDB. A decisão de mudar o nome, o estatuto e a direção do partido reflete estas dificuldades.


 


As ironias da história


 


Estas mudanças, porém, não alteram o conteúdo direitista do extinto PFL. Na prática, elas visam apenas mudar a desgastada imagem do partido junto à sociedade. Como afirma Daniel Bramatti, da revista eletrônica Terra Magazine, o PFL vai deixar de ser liberal somente no nome. As duras críticas às privatizações e ao neoliberalismo na eleição do ano passado “convenceram até os mais reticentes líderes pefelistas de que, no Brasil, o termo liberal tem forte carga negativa e afasta o eleitorado”. A matéria revela que Jorge Bornhausen, que resistia à mudança do nome, só assentiu após ouvir o marqueteiro Antonio Lavareda, considerado um “mago” das pesquisas eleitorais.


 


O programa do “novo” PD, segundo notícias da mídia, manterá a defesa das bandeiras liberais, como a privatização, as reformas previdenciária e trabalhista e a redução do papel do Estado – mas de forma mais “plástica”. Já o novo estatuto foi inspirado no Partido Popular (PP), a sigla reacionário ex-premiê espanhol José Maria Aznar. De curioso mesmo, só as ironias da história.


 


O ex-senador Jorge Bornhausen, que no auge da crise do governo Lula pregou o impeachment e festejou precipitadamente “a extinção desta raça [das esquerdas] por 30 anos”, é quem está indo para o estaleiro. Outra ironia é que o “novo” partido, que reúne alguns dos principais expoentes da ditadura militar e fervorosos adeptos do neoliberalismo, irá se chamar de Partido Democrata.

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