Razão e emoção no segundo turno

A campanha de Lula também entra duro e de modo ultra agressivo contra o atual presidente

Foto: Ricardo Stuckert

Essa parece ser uma marca comum a todas as democracias liberais burguesas mundo afora: no embate eleitoral decisivo, a razão cede quase todo o espaço à emoção e esta é alimentada por agressões mútuas.

No Brasil sempre foi assim. No âmbito dos estados e na eleição nacional, com ocasionais exceções.

Desta vez, no confronto terminal entre Lula versus Bolsonaro, “do pescoço para cima é canela”, como se diz na gíria das peladas de futebol.

Tanto no programa de horários fixos, pela manhã e à noite, como nas inserções que se repetem na TV e no rádio durante o dia.

Palavras e imagens grosseiras e agressivas ofuscam proposições destinadas a tirar o país da crise. E a conquistar o eleitorado.

A campanha de Bolsonaro exagera no expediente sem nenhum limite.

A campanha de Lula, embora dê espaço às falas do ex-presidente a propósito de linhas gerais e propostas pontuais acerca do seu provável futuro governo, também entra duro e de modo ultra agressivo contra o atual presidente.

Parece a disputa entre Joe Biden versus Donald Trump, dramático espetáculo recente, próprio do grande império decadente.

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Ganharia a nação brasileira, sobretudo o povo, se o confronto se desse prioritariamente entre ideias e proposições concretas. O eleitor faria sua escolha de modo mais consciente e, esclarecido, elevaria o seu nível de consciência política.

Teria como Lula evitar esse espetáculo de sangue e lama? Creio que não. Salvo correndo o risco de aparentar defensiva diante das agressões e das mentiras disseminadas pela campanha do atual presidente da República.

Passaria uma impressão de fragilidade — e provavelmente perderia votos por isso.

Obviamente sem o alcance nem a repercussão das mensagens veiculadas pela TV, a militância esclarecida pode e deve abordar os conteúdos “programáticos” na busca do voto consciente. No corpo a corpo e nas redes.

Ironicamente, será após o pleito que a nação tomará conhecimento das ideias programáticas que lastrearão o futuro governo, justo no período de transição e de montagem do ministério.

E, em certa medida, ainda na campanha, nos debates entre os candidatos, desde que conduzidos com um mínimo de tempo necessário para que os contendores possam expressar suas ideias.

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