Racismo no futebol e o exemplo que vem da NBA

O caso de Daniel Alves foi mais um dos vários atos racistas que aconteceram neste ano. A diferença deste para outros episódios, como o de Tinga no Peru, o de Arouca em Mogi Mirim, o de Neymar em Barcelona e o do árbitro gaúcho Márcio Chagas da Silva, foi a atitude do jogador do Barcelona, que respondeu na hora ao gesto estúpido de um torcedor do Villareal ao comer a banana que havia sido atirada a campo. O lateral não poderia ter reagido de maneira melhor.

Apesar desta diferença, o que marca estes casos é a semelhança da impunidade. A Conmebol multou o Real Garcilaso em apenas 12 mil dólares e ameaçou interditar o estádio do clube em caso de reincidência de manifestações racistas como a direcionada a Tinga. O Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo aplicou multa de R$ 50 mil ao Mogi Mirim, mas nenhuma medida foi tomada na instância esportiva. Na Espanha, o Villareal será julgado nesta quarta-feira e a pena pode ir desde interdição do estádio por alguns jogos até o rebaixamento à segunda divisão do Campeonato Espanhol.

 
A exceção entre as punições veio do Rio Grande do Sul. Márcio Chagas da Silva relatou ter ouvido ofensas racistas durante a partida entre Esportivo e Veranópolis, em Bento Gonçalves, e, após o jogo, bananas haviam sido deixadas em seu carro, estacionado em área reservada do estádio. O TJD-RS não deixou barato: tirou seis mandos de campo do Esportivo, aplicou multa de R$ 30 mil e subtraiu nove pontos do clube no Gauchão, o que acarretou no rebaixamento da equipe à segunda divisão do estadual. Ainda cabe recurso no STJD.
 
Quase simultâneo às repercussões do caso de Daniel Alves – que foram desde o posicionamento da presidente Dilma, à discussão pela campanha #somostodosmacacos ter saído de uma agência de publicidade, ao oportunismo de Luciano Huck -, um caso de racismo também ganhou imenso destaque nos Estados Unidos.
 
O site de fofocas TMZ divulgou uma conversa do presidente do time da NBA Los Angeles Clippers, Donald Sterling, com sua namorada, V. Stiviano, em que, entre outras coisas, ele disse: “Fico muito incomodado em você querer aparecer ao lado de pessoas negras. Por que você faz isso? Você pode dormir (com negros), pode fazer o que quiser. A única coisa que peço é que não divulgue isso. E não os traga aos meus jogos”. A razão de Sterling ter proferido esses absurdos foi Stiviano ter publicado em seu Instagram uma foto com o ex-jogador Magic Johnson.
 
A repecussão das declarações foi imensa: os jogadores do próprio time protestaram antes de uma partida, astros como LeBron James, Michael Jordan e Magic Johnson se posicionaram e até mesmo o presidente Obama veio a público comentar o assunto. A NBA se encontrava em uma situação difícil, principalmente porque o episódio de racismo não ocorreu com um atleta, técnico ou funcionário qualquer, mas com o dono de um time. E o que a liga fez? O que deveria ser feito em qualquer caso de racismo: aplicou uma punição exemplar.
 
O recém-empossado comissário Adam Silver decidiu banir Sterling da NBA. Ou seja, ele não pode aparecer em nenhum jogo da liga e nenhuma instalação da equipe ou exercer qualquer função administrativa no time. Sterling também terá de pagar uma multa de 2,5 milhões milhões de dólares e, caso 75% do donos de outras franquias votem a favor (o que é muito provável), também será obrigado a vender sua equipe.
 
Este não foi o primeiro episódio racista envolvendo Sterling, que responde na justiça por acusações do mesmo teor. Mas, até pela dimensão que o assunto tomou, foi a primeira vez que a NBA encarou de frente a questão. E fez isso da melhor maneira possível: afastando e punindo uma pessoa cujas visões de mundo não se enquadram com a liga (e com qualquer outro lugar da sociedade). Também agiu bem em não punir a equipe na esfera esportiva, já que os próprios atletas ficaram tão ofendidos como qualquer outra pessoa. Se o Clippers por acaso for campeão nesta temporada, Sterling não poderá estar sequer no ginásio para ver o troféu.
 
A NBA tem uma estrutura completamente diferente do futebol. É uma liga com franquias, que segue regras estabelecidas pelo comissário e aprovadas pelos donos dos times. Não há CBF, TJD, STJD, Fifa e um bando de outras instâncias envolvidas em cada processo. E o caso do Clippers também não se compara com os do futebol por ter vindo de um mandatário, não da torcida. Mas o que se deve tirar dessa situação é como encarar de frente um tema sério.
 
A única maneira de combater o racismo no futebol é punir os clubes nas competições. Se o Villareal for rebaixado no Campeonato Espanhol, provavelmente nenhuma banana voará daqui para frente ao gramado do El Madrigal.
 
A razão de alguém ir ao estádio é a paixão por um time. Por isso, os casos de racismo só diminuirão quando as equipes forem culpadas de forma exemplar pelo comportamento dos seus torcedores. É claro que uma medida dessas não resolveria a questão do racismo no esporte, mas pelo menos inibiria que pessoas estúpidas manifestassem suas opiniões descabidas em um local público. 
As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor