Quem julgará Bush?

Só uma lógica macabra explicaria que se condene à morte alguém acusado de matar uma centena de pessoas e, ao mesmo tempo, se deixe impune um outro, como George Bush, responsável pelo assassinato de milhares de pessoas mundo afora.

Um tribunal iraquiano, sob absoluto controle americano, condenou Saddam Hussein à morte, por enforcamento, sob a acusação de que o exército daquele país, então sob o seu comando, matou uma centena de curdos em represália a um atentado de que fora vítima o hoje assassinado presidente iraquiano.


 



Uma frase, atribuída a distintos personagens, diz que “uma morte é uma tragédia, mas um milhão de mortes é apenas uma estatística”. Não compartilho com essa opinião. Mas parece que o tribunal que “julgou” Saddam Hussein concorda em gênero, número e grau com essa lógica macabra.


 



Só isso explicaria que se condene à morte alguém acusado de matar uma centena de pessoas e, ao mesmo tempo, se deixe impune um outro, como George Bush, responsável pelo assassinato de milhares de pessoas mundo afora.


 



Somente na desastrada campanha do Iraque os Estados Unidos já perderam 2.978 militares, número superior ao total de vítimas da tragédia das “torres gêmeas”. Por outro lado, a sangrenta ocupação já custou a vida de 601 mil iraquianos, sendo que a imensa maioria era de civis, anciãos e crianças indefesas, que morreram abraçados com os seus brinquedos, provavelmente “confundidos” com “armas de destruição” em massa.


 



Quem é o responsável por essas mortes? Parece-me óbvio que é Bush. Se Saddam Hussein foi condenado à morte pela acusação de ser responsável pelo massacre de uma centena de curdos, qual seria a pena adequada para um invasor que destruiu a vida de mais de 600 mil pessoas? No mínimo o esquartejamento.


 



Mas aí surge a pergunta óbvia: quem julgará Bush? O tribunal iraquiano manipulado por ele certamente não será. Tampouco os tribunais americanos, que fingem não ver as atrocidades praticadas por Bush contra países soberanos, incluindo a tortura nas prisões secretas.


 



E é contando com essa impunidade que Bush continua praticando o terror mundo afora.


 



PS: Quando escrevi esse artigo Saddam tinha acabado de ser “condenado” e, evidenciando a farsa que foi seu julgamento, hoje já está morto. Me incomoda perceber que as ONGs ligadas as questões de direitos humanos estão mudas. Ou será que a defesa da tese não é um principio? Saddam não foi julgado, foi executado para servir de troféu a um facínora chamado Bush e é dessa forma que qualquer pessoa minimamente comprometida com a democracia e a liberdade deve tratar esse fato vergonhoso.

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