Quando a pauta não existe

Antônio Carrilho considera Vladimir Carvalho um excepcional documentarista e seu filme “Conterrâneos Velhos de Guerra”, o melhor documentário já feito no Brasil

Vladimir de Carvalho é cineasta l Foto: Maira Morais/Divulgação

Apesar da minha cegueira, ainda continuo a escrever, inclusive para um jornal. É verdade que é um jornal só na internet, o portal Vermelho, politicamente identificado com o PCdoB. Mas é um trabalho igual, como se fosse para um jornal em papel. Assim comecei escrevendo para a Folha do Povo, que era do PCB, e vou escrevendo enquanto puder para o Vermelho ligado ao PCdoB. E não me restrinjo ao assunto cinema. Esse é apenas o assunto principal.

De repente, liguei pelo Messenger para o cineasta Antônio Carrilho, que apesar de bem jovem é meu amigo. Ele me disse que continua trabalhando em cinema e morando num engenho na casa onde nasceu e sua mãe também mora ali. Ele viaja durante a semana e tem trabalhado com o cineasta paraibano Vladimir Carvalho, com quem se dá muito bem. Antônio Carrilho considera Vladimir Carvalho um excepcional documentarista e seu filme “Conterrâneos Velhos de Guerra”, o melhor documentário já feito no Brasil.

Perguntei a Antônio Carrilho sobre seus últimos filmes e ele me indicou   “Psiu!”, um curta de 20 minutos que fala sobre o médico e compositor Zé Dantas, que criou algumas das melhores composições musicais com Luiz Gonzaga. O filme é bem construído através de entrevistas com pessoas que conviveram com Zé Dantas. Entretanto, deixa de apresentar imagens do próprio Zé Dantas. Segundo Carrilho, elas não existem. Talvez tenha faltado uma melhor pesquisa.

Outro filme é também um documentário, “Urânio Picuí”, com 51 minutos de duração, abordando a existência de urânio na região de Picuí, na Paraíba, fronteira com o Rio Grande do Norte. Esse filme é dirigido por Tiago Melo e Antônio Carrilho, e me parece que quem conhecia o assunto era o Tiago, que fez inclusive o roteiro. E Carrilho se ligou realmente na criação cinematográfica. Inclusive olhando para os dois filmes, um com contexto mais forte é o “Urânio Picuí”.

Esses dois filmes são de 2011 e 2014, respectivamente. É claro, o pessoal de cinema de Pernambuco continua trabalhando, mas o que me parece é que o ritmo de montagem dos filmes é mais lento do que deveria ser. Na verdade, ninguém vive de fazer filmes em nosso Estado. Até mesmo o cineasta mais famoso, Kleber Mendonça Filho, tem várias atividades circundantes e faz filmes paralelamente. A questão é que ainda não se formou uma indústria de cinema aqui no Nordeste. Mas o pessoal continua a criar.

Olinda, 11. 02. 23

Recado para o negro: é mais difícil com ele

Foi isso que eu vi na entrevista de agora há pouco do Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania Silvio Almeida, que é um intelectual negro e foi escolhido pelo Presidente Lula. A entrevista foi no programa Diálogos da GloboNews, com o jornalista Mario Sergio Conti. Embora tenha inclusive parabenizado o entrevistado, que vai ser pai pela primeira vez,  Mario Sergio Conti perguntou praticamente sobre a sua capacidade de ser Ministro, o que não faria se fosse um intelectual de pele clara.

Silvio Almeida, filósofo do direito e presidente do Instituto Luiz Gama

É verdade que Mário Sérgio Conti sempre se mostrou um democrata e tomou essa posição justamente para mostrar independência, mas assim se torna cada vez mais explícito como vivemos num país racista. No entanto, foi bom pelo fato de que a entrevista serviu para que Silvio Almeida mostrasse a importância do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, e se o Ministro esteve presente tanto em Roraima quanto em São Paulo, foi por ter no que se pronunciar nesses dois lugares. Como vai ter em muitos lugares do país, pois o seu principal objetivo é fazer com que tenhamos direitos humanos como uma forma de Direito, que tem que estar na base do próprio Governo Federal. E ele só está realmente nesse Governo pela razão de quem está no topo do Governo é alguém que tem esses princípios e se dirige em torno deles. Aí a grande diferença entre um Lula e um genuíno meliante que esteve desgraçadamente quatro anos na Presidência.

Se não me engano, quem esteve no Ministério dos Direitos Humanos foi aquela senhora que disse ter visto Jesus na goiabeira, e nunca considerou que houvesse direitos humanos para serem cumpridos.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor