Progresso com emprego

O profissional que iluminava as cidades nos séculos 18 e 19, cuidando de colocar óleo de baleia ou querosene nos lampiões e a seguir acender os bicos de gás, foi uma vítima poética da tecnologia. A rede de lâmpadas elétricas acabou com o acendedor de lampiões, e o ofício permaneceu como símbolo dos muitos extintos pelo avanço do progresso que introduz conforto e facilita a vida moderna.


“Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente
Parodiar o sol e associar-se à lua”
Jorge de Lima
O Acendedor de Lampiões

Mas foi um caso em que a modernidade gerou mais empregos do que o sistema obsoleto que substituiu. A esse fenômeno os estudiosos chamam “destruição criadora”, pois ao mesmo tempo em que a inovação tecnológica destrói velhos sistemas de produção, e portanto de trabalho, engendra cadeias de negócio e novas profissões. Muitas ocupações tradicionais já foram extintas e inúmeros processos de produção na indústria e no setor de serviços terminaram assumidos por engenhocas eletrônicas movidas a circuitos integrados, também frutos do suor e da inteligência humana.

Embora decorra do incontrolável avanço do progresso, a redução de postos de trabalho causada pela inovação gera tensões na classe trabalhadora. Foi por isso que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação abriu um fórum de debates com o movimento sindical para avaliar e buscar formas de convivência com os impactos de novas tecnologias no mundo do trabalho. A seguir, faremos um grande seminário nacional sobre o assunto.

A baliza inicial, no entanto, é que as conquistas científicas e tecnológicas são irreversíveis e, no geral, úteis à Humanidade. O desafio de uma sociedade democrática e socialmente avançada é reduzir os efeitos colaterais da “destruição criadora” trazida pelo progresso, para que não gerem um vazio mundo paralelo, insensível às necessidades de milhões de pessoas que têm no trabalho a chave da proteção social.

Sindicalismo 

Ao debater com o movimento sindical os efeitos ambivalentes das novas tecnologias, que ao mesmo tempo geram riqueza e extinguem antigas profissões, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação tem no horizonte que, para o mundo do trabalho, não há alternativa senão assimilar o avanço do conhecimento na sociedade humana.

A resposta do mundo do trabalho à “destruição criadora” das novas tecnologias tem sido a requalificação profissional para desempenho de novas tarefas. Já funcionam no Brasil extensos programas de capacitação de trabalhadores desempregados, para que aprendam uma nova profissão, ou mesmo se reciclem para continuar a exercer a antiga, nos casos em que a tarefa passou a exigir mais conhecimento. Motoristas de caminhão, por exemplo, agora conduzem veículos dotados de recursos da informática.

O assunto é, no entanto, complexo e multidisciplinar, e embute uma reflexão filosófica sobre o mundo que estamos a construir. Uma vertente do debate há de ser a quem servem determinadas novidades que implicam acumulação de capital e concentração de riqueza, em prejuízo dos trabalhadores. Se expressam o progresso da Humanidade, têm de beneficiar a todos com equidade.

Ninguém aceita que a agricultura familiar, ainda exercida com baixo nível de inovação tecnológica, seja sumariamente engolida pela empresa rural moderna, que usa muita tecnologia e pouca mão de obra.

Nessa linha, há de se considerar que a proteção do trabalho também é fruto do avanço da civilização. A Constituição de 1988 já trouxe o cuidado de equilibrar os efeitos das novas tecnologias, numa época em que a automação de processos industriais e serviços causava inquietação nos países industrializados. Diz no artigo 7.º: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social”, a “proteção em face da automação…”

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