Pensando bem…

Não deve mesmo, embora possa, um partido ficar refém do presidente da República, mesmo que seja o partido do presidente da República.

Há um novo Congresso Nacional. A pergunta é: o que podemos esperar do Congresso que assumiu agora? Recordando, o Congresso é o Poder Legislativo no âmbito federal, composto pela Câmara dos Deputados e o Senado.


 


Na presidência do Senado, o senador alagoano Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reeleito. Na Câmara, há um novo presidente, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Alinhados inegáveis ao governo federal. E daí? Melou muito pra oposição que está aí.


 


Sobre Calheiros, advogado, é quase possível fazer previsões com chances de acertos. Sabemos de seus comportamentos políticos hábeis e pendulares e que compromissos tem, inclusive com os movimentos sociais e com os direitos da mulher.


Chinaglia é médico, deputado federal pela quarta vez consecutiva, cutista, ex-presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo. Um sindicalista da CUT. São credenciais que indicam o quê? Não se sabe ao certo. Mas não é exatamente uma incógnita, na medida em que teve como cabos eleitorais declarados, em campanha aberta, os ex-deputados federais Roberto Jefferson e Severino Cavalcanti (aquele católico roxo!). Ambos de tristes memórias. Apoios que uma pessoa com um mínimo de sensatez declinaria. Por que apoiaram Chinaglia? E por que ele aceitou?


 


Sabe-se pouco sobre os mais recônditos desejos e idéias do presidente da Câmara. Nem mesmo quais são os seus reais compromissos com a defesa do Estado laico.  Seus mandatos jamais foram assim… uma brastemp. Apenas medianos.


 



Mesmo pra quem sabe, tudo de bom foi empanado por uma declaração que estarreceu a nação, da mais pura insensatez política: “Mas chega um limite que não há quem possa controlar, vamos falar claro, porque corrupção tem no mundo inteiro. É muito difícil controlar. Não sei como fazer, gostaria de saber. Se vocês tiverem idéias, eu serei todo ouvidos”.


 


Ingenuidade? Deslumbramento? Sabe-se lá! Espero que seja “todo ouvidos”. O primeiro alerta é que a Câmara deve solicitar ao presidente Lula que diga qual o teor da concordata que assinará com o Vaticano na próxima visita do papa, em maio. É a ação prioritária do Congresso em defesa da laicidade do Estado. É seu dever.


 



O segundo é que não ficou bem Chinaglia não ter em mente, ou não atinar, que o combate à corrupção é uma definição política moral e ética que deve fazer parte do cotidiano e ser a vitrine de todos os governos com compromissos populares e democráticos. Era o que eu esperava ter ouvido. Pois é o que ele tem a obrigação de saber.


 



Deputado, apresente ao novo Congresso a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (2003), cujas finalidades são promover e fortalecer as medidas para prevenir e combater mais eficaz e eficientemente a corrupção; promover, facilitar e apoiar a cooperação internacional e a assistência técnica na prevenção e na luta contra a corrupção, incluída a recuperação de ativos; e promover a integridade, a obrigação de render contas e a devida gestão dos assuntos e dos bens públicos.


 


E não se esqueça de recapitular quais os compromissos da Câmara com o Fórum Global de Combate à Corrupção!


 


Segundo respeitáveis analistas, Chinaglia, ao disputar a presidência da Câmara, cumpriu o papel que o PT precisava para respirar um pouco no atoleiro moral a que chegou para que, na sua condição de partido, possa sentar numa mesa com Lula em pé de igualdade, pelo menos, como os demais partidos.


 


Tá certo! Não deve mesmo, embora possa e já vimos que pode, um partido ficar refém do presidente da República, mesmo que seja o partido do presidente da República.

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