Pandora: A rebelião de 20 de novembro

Vinte de novembro, dia nacional da Consciência Negra, há 311 anos Zumbi foi assassinado e decapitado como exemplo. O que temos para comemorar?

Neste período do ano entidades do movimento negro se desdobra em esforços promovendo diversas atividades. Então ao longo dos anos o dia passou a semana e a semana passou a mês. Em vários lugares do Brasil os hip-hoper’s sempre se colocaram a disposição da construção desses eventos. Mas de que maneira nos do hip-hop temos acompanhado essa discussão fora desse período?


 


Basta para nós apenas dançar, graffitar, cantar, discotecar nesses eventos? Tenho pra mim que não. Ao contrário do que pregam alguns, o hip-hop tem cor. Pois sua esmagadora maioria é negra ou afro-descendente portanto todas as reivindicações, em especial as ações afirmativas que estão na ordem do dia devem ser acompanhadas por todo o conjunto do hip-hop incluindo os não negros porque em se tratando da luta por uma sociedade justa e igualitária em oportunidades de direitos não podemos conviver com dados do tipo:


 


Taxa de analfabetismo: Brancos 21,7%, Pardos 31,1%, Negros 40,9%.


 


Empregadas Domésticas:  Brancos 6,1%, Negros 14,6%, Pardos 8,4%.



 


Empregadores: Brancos: 5,7%, Negro 1,1%, Pardos 2,1%
 


Fonte: PNAD 1999


 


Quando conseguimos terminar o ensino médio pouquíssimos de nós tem sequer coragem de tentar uma universidade pública, (gratuita fica por conta só do nome).


 


O que resta para nós, a não ser nos colocarmos a disposição do que for? (entenda como quiser) em fim em muitos casos vitima da violência seja na frente ou atrás do “berro”. 


 


Na idade em que mais se mata ou morre, entre 14 e 20 anos, é de carne negra que falamos. Nós também somos alvos da truculência policial nas revistas e batidas a qualquer hora.


 


Só pra fazer um breve relato da condição do negro no Brasil em 28 de novembro de 1871 foi aprovada a lei do ventre livre que libertava todos os nascidos a partir dessa data. Quando o escravocrata manteria junto mãe escravisada e filho “livre” até que ele tivesse idade para trabalhar assim dando retorno financeiro de seus gastos com dormida e comida? Entendesse então que essas crianças eram abandonas a própria sorte refletido no que hoje chamamos de “menor abandonado” ou “morador de rua”.


 


Em 1885 a lei do sexagenário previa a libertação de negros a partir dos 60 anos tendo ele que trabalhar por mais 3 a 5 anos para pagar tudo o que seu “bem feitor” havia feito por ele ao longo de sua vida. Quantos negros sobreviviam ao trabalho de 16 a 18 horas diárias e ração minguada? Sendo que ele começava a trabalhar na lavoura com cerca de 10 anos e sua expectativa de vida era de aproximadamente 15 anos assim quem seria beneficiado com essa lei já estando morto?


 


Agora em 1988, no dia 13 de maio a situação era de apenas 20% do negros escravizados e a maioria os outros 80% se dividiam entre os alforriado e aquilombados. Todos a suas próprias custas. E não houveram políticas para resguardar estes, a partir de então, “cidadãos” que se encontravam sem carteira assinada, sem trabalho, sem escola e sem terra.


 


Ações afirmativas


Os primeiros imigrantes a chegarem aqui após os portugueses escravocratas foram italiano e alemães entre outros. Eu penso que esses imigrantes foram alvos das primeiras ações afirmativas do Brasil: receberam terras e insumos para que pudessem produzir, política acertada da época, mas para o negro nada!


 


Já no século 20 começaram a ser feitas leis para impedir o acesso do negro a várias políticas públicas como por exemplo, impedir que os negros pudessem votar, assim como as mulheres, juntando-se ao racimos o machismo.


 


Depois veio a lei que impedia o negro de estudar juntamente com portadores de necessidade especiais, rancenianos e outras doenças infecto contagiosas. Em seguida a lei de restrição ao voto do analfabeto, ora se não podemos estudar então éramos também nós que não podíamos votar. Ainda temos a lei da vadiagem que abarcou os praticantes de capoeira, os boêmios, muitas vezes os praticantes de religião de matrizes africanas e os sub-empregados.


 


Durante a Ditadura Militar novamente fomos perseguidos em função de buscarmos identidade e alto estima negra espelhados nos movimentos Black Power e Black Panter’s.


 


O que nós do hip-hop temos ver com essa história?


 


Somos filhos e herdeiros desse povo que lutou contra a opressão e seqüestrado de várias nações africanas. Agora cabe a nós fazermos de nossa caneta nossa espada, de nossa dança nossa luta marcial, de nossos desenhos nossas denúncias e da discotecagem nosso grito! O hip-hop deve se tornar cada vez mais instrumento revolucionário na periferia, elemento de transformação feito por nós para nós.


 


Que a nossa consciência negra não seja motivo de comemoração no 20 de novembro, mas seja motivo de união e rebelião o ano inteiro.


 


Pandora da Luz – Presidente da Nação Hip-Hop Brasil  do Espírito Santo. Militante do Movimento Negro e Produtora cultural.

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