Os vícios e a fé na política

"A picardia do homem do povo é bem diferente do trambique dos poderosos, pois se trata de uma questão legítima de sobrevivência". (Ariano Suassuna).Para começar essa coluna proponho um trato já aqui na introdução: não trataremos um grande brasileiro da estatura de Suassuna com uma discussão conjuntural, associando-o a algum candidato.

Ariano acertou em cheio na afirmação acima. Vamos confessar que, qualquer um que acredita na política como ferramenta de transformação, escreveria as palavras acima.

Afirmar que a sagacidade do homem do povo é e deve ser diferente dos representantes das corporações seria pleonasmo? O fato é que, temos poucos homens do povo no sistema político (uma evidência é que só 75 deputados são ligados à bancada sindical e de trabalhadores), com uma legislação que privilegia a intervenção dos “trambiques dos poderosos”.

E isso tem interferência em todos que fazem política. São raros os agentes públicos que se assumem de direita ou de esquerda. Um sinal dos nossos tempos é a tendência de parlamentares atuarem de acordo com uma orientação política de centro. Assim é mais fácil para seguir de acordo com a “maré” da opinião pública.

Uma pessoa que representa outras em suas atividades parlamentares não precisa ser bonita ou ter diploma escolar, precisa mesmo é ter coragem. E anda faltando coragem na política brasileira. Coragem para defender ideais, expor opinião e não só ficar na cômoda posição de ouvir o que a opinião pública diz, até porque essa opinião é cada vez mais expressa pelos meios de comunicação de uma mídia monopolizada. Assim, somos pautados e agendados pelos objetivos desses grupos, que têm interesse em cada palavra, em cada manchete impressa.

Há outros males da nossa política que precisamos expor e superar. A cultura viciada no “ismo”, com o fisiologismo, grupismo, mandonismo, nepotismo e uma série de práticas que nos remetem aos tempos de coronelismo precisa ser combatida cotidianamente, seja no parlamento ou no movimento social. Tem na direita, mas não pode ser aceito na esquerda.

As superlideranças, que centralizam as decisões sem passar por instâncias coletivas e reforçam o personalismo, também igualam a “picardia do homem do povo aos trambiques dos poderosos”, pois a educação e formação política e social de novos protagonistas é fator fundamental para construir a nova política, conectada com as características desse novo tempo em que a qualidade de vida de milhares de pessoas alcançou patamar mais elevado.

É preciso refletir sobre esses vícios para elevar a participação política das pessoas que estão vivenciando a mudança de vida propiciada pelo novo ciclo econômico iniciado em 2002, principalmente as mulheres e os jovens. Pesquisa feita pela revista Época/Retratos mostra que apenas 1% dos jovens é filiado a partido político, porém dois em cada cinco adolescentes entre 16 e 18 anos gostariam de seguir carreira política em outra moldura, em que o modus operandi seja diferente.

É claro que uma reforma política e a reforma da comunicação podem acabar com boa parte desses vícios. Esse é o centro do embate hoje. Porém, se acharmos que a mudança política está somente do lado de fora e, como dizia Sartre, que “o inferno são só os outros”, ficaremos longe do povo e isso quer dizer ficar mais perto das manobras dos poderosos.
A consolidação e fortalecimento da democracia brasileira e, consequentemente, a bandeira por uma política com mais participação popular e social sempre foi erguida pela esquerda e não podemos deixar que o significado dessa luta seja distorcido.

Para encerrar, recorro mais uma vez às palavras de Suassuna: – “Não fiquem amargos e pessimistas com este País, é apenas uma minoria que não presta”.

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