Os planetas e a sublime estupidez do mundo

A Assembléia Geral da União Astronômica Internacional (IAU), que reuniu 2.500 astrônomos em Praga, capital da República Checa, decidiu, dia 24: o Sistema Solar é composto por oito ''planetas clássicos'' e continuarão os estudos para a melhor classifica

Com a decisão da IAU, Plutão não é mais considerado um planeta, assim como não receberão esta classificação o asteróide Ceres, Caronte, a lua de Plutão, e 2003 UB303. Para os materialistas, essas classificações são arbitrárias, são decisões dos humanos que não alteram a realidade exterior, mas ajudam a melhor entendê-la, a melhor conhecê-la e transformá-la. Plutão continuará sendo o que é, independente de como o chamemos. Assim pensam os astrônomos, os cientistas.


 


Mas diferente é a visão dos astrólogos. Para estes, os nomes de deuses com os quais vários planetas foram batizados, indicam também influências destes planetas no ser humano, dependendo da data e da hora de seu nascimento. Assim, o planeta Vênus (batizado com o nome da deusa do amor) representa a necessidade de ''obter harmonia e beleza''. Marte, que recebeu o nome do deus da guerra, simboliza energia, vigor, agressão, luta pela sobrevivência… A formação do horóscopo baseia-se no sistema de Ptolomeu, que acreditava que a Terra era imóvel, com os corpos celestes girando ao seu redor. O conhecimento humano já alcançou a verdade de que a Terra se move e não é centro do Universo – mas o que representa a verdade para aqueles que colocam a fé como o central para as suas convicções?


 


Foi Marcus Manilius que, no século I d.C., no poema ''Astronomica'', descreveu a criação, o céu, os signos do zodíaco e a influência astral no destino humano. Os signos influenciariam, inclusive, partes do corpo, como a cabeça (Áries), as genitais (Escorpião), ou os pés (Peixes). A partir de 1472, multiplicaram-se as edições das crendices do Manilius.


 


Para fazer suas análises e previsões – o mais das vezes preconceituosas -, os astrólogos consideram que o firmamento tem 12 casas celestes, cada uma com um signo do zodíaco. As posições dos corpos celestes teriam influência nos traços de personalidade, acontecimentos e até na aparência física das pessoas. Contudo, os astrólogos não usam cálculos científicos para saber se um astro está numa ou noutra posição no espaço em relação à Terra (embora essa seja uma conquista antiga da ciência, que pode prever com meticulosa precisão a ocorrência de eclipses, por exemplo). Quando os astrólogos dizem que um planeta está em um determinado signo do Zodíaco, eles estão falando sobre uma parte do céu que, uma vez, há 2000 anos, coincidiu com aquela constelação específica. Portanto, quando um astrólogo diz que um tal planeta está em uma determinada constelação, ele está indicando o local onde ela estaria há 2000, calculado com o conhecimento daquela época…


 


Testes usando dois grupos de controle mostraram que a taxa de acerto de um astrólogo ao casar uma carta astrológica com o perfil de um cliente não é maior que a de uma pessoa que faça associações aleatórias de clientes e cartas astrológicas. Até o anedotário popular já vilipendiou a astrologia: ''Não acredito em astrologia. Acho horóscopo uma bobagem. Aliás, todos nós, de Áries, sentimos o mesmo''. Mas até hoje, quando a ciência, ano a ano, firma-se como método único e amplia mais e mais o conhecimento da realidade, aumenta o número de crentes nas mais variadas interpretações metafísicas do mundo. Em Brasília, o candidato a governador pela direita, José Roberto Arruda (PFL) – aquele, que violou o painel de votação secreta do Congresso -, tratou de informar seus eleitores: ''Sou capricorniano com ascendência em Capricórnio''.


 


Shakespeare, no ato I de O rei Lear, não deixou por menos: ''Eis a sublime estupidez do mundo: quando nossa fortuna está abalada – muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos – culpamos o sol, a lua e as estrelas pelos nossos desastres; como se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por influência celeste; escroques, ladrões e traidores por comando zodíaco; bêbados, mentirosos e adúlteros por forçada obediência a determinações dos planetas; como se toda a perversidade que há em nós fosse pura instigação divina. E a admirável desculpa do homem devasso – responsabilizar uma estrela por sua devassidão''.

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