Os Ecos da Marselhesa

O candidato vitorioso à presidência da república na França foi Sarkozy contra a socialista Ségolène Royal em uma disputa demasiado acirrada, com um índice de participação do eleitorado em mais de 80% dos aptos a votar, e um país praticamente dividido ao m

Ao final da votação, duas multidões se aglomeravam nos respectivos comitês de campanha, cantando, cada uma delas, a Marselhesa, como mostraram as imagens da televisão francesa. É evidente que o resultado demonstrou a derrota da esquerda e em particular do Partido Socialista. Mas as análises não explicaram a vitória do candidato de centro direita.


 
Com um crescimento econômico ínfimo, os franceses fizeram a opção pelos privilégios entre os cidadãos de primeira e os de segunda classe. Não se pode esquecer o recente passado colonial da França. Para eles, a república é também sinônimo de nacionalismo. O humanismo dos socialistas e seus apoiadores não conseguiu atrair a maioria dos eleitores a repartir o status quo.


 


Os imigrantes fazem o trabalho menor, braçal, que os franceses consideram inferior. Eles não desejam mudar. Querem mais prosperidade, maiores taxas de desenvolvimento, mais empregos, sem alterações sobressaltadas. Preferem manter tudo como se encontra, tudo em ordem, em seus lugares, os cidadãos de primeira linhagem e os ex-colonizados. Cada qual em seus papéis.



O problema é que o bolo não dá para ser dividido generosamente entre todos. O candidato eleito falou direto ao coração dos franceses. Liberdade, igualdade e fraternidade, vírgula, que o santo é de barro.



Talvez esse seja o  histórico dilema, embaçado, de uma nação que se debate entre o sentimento republicano, democrático, que tanto apregoam, e o passado colonialista que carregam nas costas.



A esquerda apresentou propostas inconsistentes à maioria do povo francês. Aqueles que votaram na candidata da esquerda o fizeram por convicção ou por serem imigrantes, em sua maioria das ex-colônias. Foi mais fácil a eleição passada entre Chirac e o fascista Le Pen. Entre a república e o fantasma  de Pétain, colaborador do nazismo na Segunda Guerra mundial.


 


O orgulho francês da sua cultura, tradições republicanas, vinhos, gastronomia, é um misto de justa auto-estima e vergonha do passado recente, uma crise existencial. A França, salvo equívocos, não será fascista, nem socialista. A França será a França, como diria o conselheiro Acácio.

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