Os demônios são legião, as crises também

A ideologia conservadora reveste a crise atual de eufemismos criados para ocultar a natureza desta constante do capitalismo. A economia de mercado segregou um veneno virtual consubstanciado em títulos e papéis que elegantemente alguns economistas desta co

O capitalismo se desdobra em três manifestações conjugadas do capital: o capital industrial, o capital comercial e o capital financeiro.  Os três ramos são intimamente entrelaçados, na ausência de um deles, a formação social decorrente não é capitalista.  O crédito, o capital financeiro, é o mais dinâmico motor do capitalismo. Desenvolveu-se tardiamente, mas  com a aceleração  das comunicações e as tecnologias desenvolvida  pelo sistema bancário, transformou-se no instrumento decisivo da acumulação de capital. Sem acumulação permanente, o capital esmorece, e o crescimento se esvai nos ciclos econômicos, até que os fatores de produção, fundamentalmente o trabalho, desçam a um nível propiciatório da retomada e de nova ascensão.
  


 


As teorias sobre os ciclos econômicos revelam a fertilidade criadora dos economistas, tais e tantas são as causas que perturbam a estabilidade da economia, subitamente, ou num lento deslizar para o interior do ciclo, ou das crises.
 


 


Alguns autores atribuem a fenômenos naturais o desencadear das crises. São as teorias naturalistas que explicam as crises por acontecimentos estranhos ao sistema concreto de produção. A.Pesenti  , menciona dois economistas ingleses: Stanley Jevons e Erbert Jevons que explicam as crises atribuindo-as à influência das manchas solares, pois estas têm um ciclo decenal. A intensidade oscilatória da radiação solar corresponderia a ciclos correspondentes no rendimento das colheitas, que se expandiriam para toda a atividade econômica. Menciona Pesenti que outros insistiram no ritmo oscilante da produção da matéria orgânica e inorgânica, citando, dentre estes, Werner Sombart.


 


As crises podem se manifestar por motivos psicológicos, decorrentes de manifestações de pessimismo e otimismo, capazes de acarretar flutuações, asseguram seguidores desta corrente. Pesenti menciona Vilfredo Pareto e Pigou, alinhados a essa orientação.


 


A teoria dos ciclos periódicos recebeu importante contribuição do francês Clement Juglar, para quem as crises não se apresentam somente como fenômenos isolados, mas partem da flutuação da atividade comercial, e que os períodos de prosperidade, crise e superação, sucedem uns aos outros sempre na mesma ordem. Os ciclos de Juglar ocorreriam em prazo aproximado de dez anos e se transformaram em tema de constantes avaliações. A esses ciclos os economistas denominam de “ciclos longos”.


 


O economista russo Kondratieff formulou a teoria dos ciclos longos, com duração de cinqüenta anos, ou mais. Os ciclos para Kondratieff não eram estritamente periódicos, mas flutuações cumulativas de longa duração. Na fase ascendente dos ciclos, as depressões de curta duração se manifestavam, mas, nos períodos ascendentes,as  depressões seriam mais intensas . A seriedade e dedicação na pesquisa caracterizaram o trabalho de Kondratieff, merecendo encômios de Schumpeter. Sobre esses ciclos de pequena duração (Juglar) e os de maior extensão (Kondratieff) Esey, ob.cit., faz as seguintes observações :”Pode-se admitir, por enquanto, a possibilidade  de que as mudanças (câmbios) fundamentais que se produzem na atividade econômica incluam três classes de ciclos; os  grandes ou de Juglar, formados de dois ou três ciclos pequenos, e os  ciclos Kondratieff  formados , possivelmente , de seis ciclos Juglar.


 


As teorias subconsumistas atribuem ao processo de acumulação capitalista um desencontro entre produção e consumo, pois os consumidores finais de produtos da indústria não dispõem de meios para esta finalidade. Sobre essa teoria manifesta-se Estey : “Fundamental das crises e depressões periódicas é a incapacidade dos consumidores de adquirir produtos da indústria a preços que cubram seus custos. O que produz as interrupções periódicas na indústria é a incapacidade dos produtores, não para continuar a produção (não há nenhuma prova de falta de atitude e de capital), mas de meios para obter uma saída, a preços lucrativos, para seus produtos”. Estey não se filia aos subconsumistas, mas não deixa de observar que esta teoria…constituye lo que es más característico do New Deal ,p.248.


 


Por aqui, os nossos jornalistas, versados em economia, e até economistas de expressão na mídia,construíram uma nova teoria, a do capitalismo virtual, que é ruim, e  a do capitalismo real, que é puro e imaculado. Este, vítima indefesa daquele, esmorece e patinha no tremedal de papéis tóxicos. Uma purga, como quer o Dr. Delfin, que não é subconsumista, nem tolo.

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