Os árabes e as eleições no Brasil

No próximo dia 1º de outubro, domingo, mais de cento e vinte milhões de eleitores estão chamados a comparecer às eleições gerais em nosso país. Estimamos que cerca de cem milhões escolherão o presidente e os quatro demais cargos que estão em disputa (gove

Todos sabem que dois projetos estão em curso. De um lado, a reeleição do presidente Lula – que deve vencer já no primeiro turno com mais de 50 milhões de votos válidos. Lula defenderá o desenvolvimento nacional com valorização do trabalho. Ampliará os investimentos sociais, fará projetos que reduzam a distância social e a concentração de renda. Seguirá firme na articulação internacional com os países emergentes, em desenvolvimento, buscando um mundo multipolar. Seguirá barrando a Alca e procurando construir a Comunidade Sul Americana de Nações e fortalecendo o Mercosul. Não criminalizará os movimentos sociais, como o governo anterior de FHC. Continuará barrando todas as privatizações das chamadas “jóias da coroa” das nossas estatais que restaram (BB, CEF, Petrobrás, Correios, Furnas, CHESF e Eletronorte).


 


 De outro lado, o projeto que aprofunda o modelo neoliberal, que tanto infernizou a vida de milhões de trabalhadores, representado pela aliança tucano-pefelista. Tal projeto procura articular o que existe de mais atrasado no país, as oligarquias rurais do interior com certos setores médios e esclarecidos dos grandes centros mais conservadores e encanta a classe média. O programa dos tucanos prevê a retomada da Alca, a prioridade da aliança e do comércio com os Estados Unidos. Projetos que retiram direitos históricos dos trabalhadores serão retomados pelo governo e seus aliados no congresso nacional, causando ainda mais a precarização do trabalho. O Mercosul será formalmente enterrado ou minimizado. A pretensa inserção do Brasil na chamada Nova Ordem Mundial, será subordinada e não mais soberana.


 


A questão árabe


 


Os programas de ambos os candidatos são genéricos quanto a isso. No entanto, o de Lula, por ser o atual presidente, temos a questão da prática de governo. Pela visão impregnada pelo presidente e pelo ministério das Relações Exteriores, que prioriza o comércio bilateral com os países em desenvolvimento, o mundo árabe foi priorizado. Tanto isso é fato, que uma das várias viagens do presidente Lula ao exterior, realizada em dezembro de 2004, foi feito exatamente para o Oriente Médio. Lula tornou-se o primeiro e único presidente na história da República, em 117 anos, a visitar países árabes (antes dele, apenas Dom Pedro II fez uma turnê para países árabes).


 


 Os Estados Unidos viram com maus olhos a viagem. Lula visitou seis países árabes. E começou sua turnê exatamente desembarcando em Damasco, capital da Síria, um dos países considerados pelo Departamento de Estado dos EUA (uma espécie de ministério das RE) como um país integrante do eixo do mal (ao lado da Coréia do Norte e do Irã). Visitou ainda o Egito, o Líbano e a Jordânia, entre outros. Mas mais do que isso.


 


Lula acertou com governantes árabes e em especial a Liga dos Estados Árabes (que reúne 23 países árabes) a realização de uma Cúpula de países árabes e Sul-Americanos. Tal evento, realizado em Brasília em maio de 2005 foi um sucesso estrondoso (tive a honra de estar presente). Mais de mil pessoas e todos os chefes de estado, de governo e representantes dos países estiveram presentes com os 11 países da América do Sul. Os Estados Unidos quiseram participar, ao qual, diplomaticamente o governo de Lula disse um “não” retumbante. Nem sequer credenciou observadores sob o singelo argumento que “os Estados Unidos não são um país do subcontinente”. Bush, através de sua secretária de Estado, Condoleeza Rice, que visitou o Brasil duas semanas antes da Cúpula Árabe, tentou então ao menos interferir no documento final que seria assinado por todos os representantes dos países. Aqui também mais uma derrota americana. O conteúdo foi amplamente favorável aos árabes, à luta pela soberania nacional, aos palestinos e condenou a ingerência americana nas questões do Oriente Médio.


 


Também com relação à guerra contra o Iraque a posição do Brasil foi de firmeza e soberania. Lula, antes do início dos ataques indiscriminados contra a população iraquiana, condenou com veemência a guerra e defendeu uma solução negociada. Em momento algum o governo brasileiro aceitou o falso argumento de que o Iraque teria armas de destruição de massa. E menos ainda que os Estados Unidos iriam “levar a democracia para o OM” (sic).


 


Por fim, Lula deu prioridade ao comércio com os países árabes. Se até 2002 o saldo da balança comercial com os árabes era de apenas quatro bilhões de dólares, até 2005, esse valor já atingia a casa dos 12 bilhões de dólares e, após a Cúpula Árabe-América do Sul, até 2008, atingirá a marca de mais de 20 bilhões de dólares. Convênios e intercâmbios estão sendo assinados, tratados de cooperação científica e cultural foram firmados. As possibilidades são imensas e devem ser exploradas à exaustão.


 


O voto dos descendentes de árabe no Brasil


 


 O Brasil é um dos países do mundo que mais recebeu imigrantes árabes. As primeiras levas de migração deram-se ainda no século XIX, no final do Império e no início da República (meu avô materno, vinda da Síria, desembarcou no Porto de Corumbá em 1913, ainda antes do início da I Guerra, mas já no final do desgastado Império Turco Otomano, por isso que muitos árabes serem chamados de “turco”).


 


 Os dados, ainda que não muito precisos, indicam que os filhos e netos desses imigrantes somariam algo em torno de oito a nove por cento da população do país. Ou algo como pelo menos 14 milhões de pessoas que possuem algum sobrenome árabe por parte de pai ou mãe. Outras levas migratórias ocorreram, sob o governo de Vargas e mesmo depois da II Guerra, especialmente por causa das guerras dos israelenses contra os árabes em geral e em especial os palestinos. Só para termos uma idéia disso, os descendentes de libaneses no Brasil somam mais de quatro milhões de brasileiros, sendo que o Líbano tem esse mesmo número como sua população total.


 


 Claro que, essa comunidade como um todo, não vota unida. É comum vermos candidatos ao cargo de deputado federal e estadual, em diversos partidos, até porque tais partidos não se organizam por descendência, por religião ou mesmo por etnia e nem isso seria correto. O que temos que ver com maior nitidez, é qual dos dois projetos e das duas candidaturas pode melhor expressar os interesses dessa imensa comunidade descendente de árabe e mesmo para os países do Oriente Médio.


 


 De meu modesto ponto de vista, os árabe-brasileiros e seus descendentes deveriam apoiar com firmeza, fazer campanha e defender com veemência a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nenhum outro governante na história brasileira terá tido relações de amizade e de um profícuo comércio entre o povo brasileiro e o árabe como temos hoje na gestão Lula. Mesmo sabendo que o candidato adversário ostenta um sobrenome de origem árabe (Alckmin), este é amigo de um inimigo dos árabes, que são os Estados Unidos e defenderá o alinhamento unilateral, de subserviência aos interesses da política externa americana, que por sua vez apóia claramente Israel e o projeto sionista e se coloca frontalmente contra os árabes.


 


 Não tenho dúvida alguma que no próximo dia 1º, devemos, todos nós, descendentes de árabes, apoiar a candidatura Lula. Em que pese ainda muita coisa a ser feita, a ser melhorada, Lula manterá firme a política externa de alinhamento com os países árabes, africanos e asiáticos, defendendo uma diplomacia que pregue a multi-polaridade do mundo. As portas que se abrirão, no comércio, na ciência, nas atividades culturais serão imensas. Esperamos inclusive, para breve, a inauguração de uma linha aérea de país árabe, ligando São Paulo e Rio de Janeiro direto com as principais capitais árabes, sem passar necessariamente pela Europa. Queremos ver nossos filhos e nós mesmos, porque não, estudando em Universidade árabes, falando esse idioma, trazendo mais e mais essa milenar cultura para o nosso querido país. Lula Lá no domingo e viva o povo árabe e suas nações.

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