Oriente: uma região em tensão constante

Os leitores atentos da cena internacional e que acompanham com especial atenção a região do mundo chamada de Oriente Médio (para os europeus, Oriente Próximo), sabem que falar em tensão na região é como chover no molhado. São crises e mais crise, e elas s

Nestes tempos atuais o conflito passa a ser em vários locais ou, usando a linguagem dos geólogos, ele tem vários “epicentros”. São tremores políticos, furacões e tempestades políticas de diversas naturezas. Não bastasse os quase 60 anos em que os palestinos são perseguidos e completamente usurpados de suas próprias terras – vai completar 60 anos em 29 de novembro deste ano –, desde 19 de março de 2003 a tensão regional se elevou ao limite, com a ocupação do Iraque por tropas americanas. Como diz a nota do PCdoB emitida nesta segunda, 26 de fevereiro, os Estados Unidos se meteram em um atoleiro em que não têm como irem adiante, mas também não têm como recuarem de forma organizada.


 



Não bastasse esses dois grandes focos de conflitos permanentes e de grande tensionamento, mais recentemente, o Líbano entrou nesse cenário de crise política. Por fim, o grande Irã, que não é um país árabe, mas sim persa, que desenvolve a sua tecnologia como nação soberana para o domínio completo da cadeia nuclear e sofre as maiores pressões do mesmo Estados Unidos. É sobre esses focos de tensão que faremos nesta coluna semanal alguns breves comentários.


 


 


Palestina – Falar de impasse é pouco na situação, que mereceu nossa atenção nas últimas duas semanas. As duas principais forças políticas que atuam e procuram conquistar a hegemonia política com o povo palestino, o Fatah e o Hamas, seguem tentando formar um governo de coalizão nacional tentam estabelecer um pacto pela governabilidade. Os esforços são válidos. A comunidade internacional sofre pressão total dos Estados Unidos para que boicote a Palestina, cortando verbas antes destinadas a fins humanitários. A crise social nessa região é imensa. Mais de 40% da população economicamente ativa do povo palestino encontra-se desempregada. Tão alto quanto no Iraque ocupado. Israel, em nada contribui para avançar as conversações de paz. Prevalece a política de que “só negocio com quem eu gosto”, ou seja, como Ehud Olmert não gosta do Hamas, não conversa com o chefe de governo. Um absurdo, mas é assim que as coisas ocorrem. Claro que ele se comporta dessa forma porque Bush determina essa linha de conduta. Israel nada seria se não fossem os bilhões de dólares que recebe do tesouro americano a fundo perdido, as armas de destruição em massa fornecidas pelo Pentágono e outros apoios no CS da ONU. Nesta semana, as Forças de Defesa de Israel – FDI, reocuparam a cidade palestina e histórica de Nablus. Muitas mortes e prisões. As fotos publicadas nos jornais mostram jovens (“terroristas”, como são vistos pela mídia grande) sendo presos, quando enfrentavam soldados fortemente armados com pedras nas mãos. Não há solução, caso não se converse. Ehud Olmert, se quiser ter alguma chance de seguir no governo, deve sentar à mesa de negociação. E o slogan deve ser de forma clara: a paz só com a devolução das terras palestinas ás fronteiras de junho de 1967.


 


 


Líbano – também aqui segue com impasse. A nação esta literalmente dividida, como a Venezuela, há uns três anos estava (hoje a situação reverteu-se e a situação tem ampla maioria no país). Manifestações são convocadas praticamente todas as semanas e reúnem dos dois lados, em torno de um milhão de pessoas. E olha que o país inteiro deve ter no máximo quatro milhões de habitantes. O interessante é registrar que o movimento que lidera os protestos antiamericanos, o Hezbolláh (Partido de Deus, em árabe), que até julho do ano passado deveria ter no máximo o apoio de um quinto do país, pelo tamanho da comunidade xiita no Líbano, hoje tem amplo respaldo social e político de diversos segmentos. Os mesmos xiitas que no Iraque resolveram fazer acordos com os invasores americanos para formarem um “governo” fantoche pró-Estados Unidos, no Líbano, lidera a resistência e clama pela derrubada do governo títere de Fouad Siniora, primeiro Ministro. E por lá as alianças também são amplas, pois além do próprio Hezbolláh, há uma unidade política com o grupo Amal, também islâmico, o Partido Comunista do Líbano e com os cristãos vinculados ao deputado e general da reserva Michel Aoun. É falsa a acusação que partem dos setores governistas de que essa aliança é pró-Síria e pró-Irã. Essa unidade política é pró-Líbano e antiimperialista. A Síria, nação soberana e que apóia as lutas pela libertação do Líbano e da Palestina e no Iraque, presta apenas e tão somente a sua solidariedade a esses movimentos e recebe em sua capital, Damasco, representações de todos esses agrupamentos, como dos palestinos, que vivem no exílio.


 


 


Iraque – A novidade é o recrudescimento dos ataques às forças invasoras. Crescem em todo o país, chegando até a cem mortes, em média, por dia. Até mesmo o vice-presidente do país, sofreu um ataque recente, onde escapou de morrer. Há outras novidades no front. O governo serviçal de Tony Blair, que na Inglaterra desta semana viveu uma imensa passeata de cem mil pessoas contra a guerra no Iraque, anunciou que vai retirar mais da metade de seus soldados, estacionados no sul do país, nos próximos meses. Esse foi um duro golpe na política de Bush. Mas no front interno dos EUA, Bush também sofreu um revés político. Foi derrotado na Câmara dos Representantes, a Câmara dos Deputados de lá, com uma moção contra o envio de mais soldados ao Iraque, como determina o plano guerreiro do presidente americano. E tal moção, que ganhou amplamente, teve 19 votos de deputados republicanos. Isso não significa que ele estará impedido de enviar soldados, mas é uma forte derrota. E mais recentemente, a secretária de Estado, Condoleeza Rice, que esteve na semana passada na Palestina em um giro completamente fracassado, acaba de anunciar que vai participar de uma reunião com representantes do governo do Iraque, da Inglaterra, mas pela primeira vez menciona os “vivinhos” do Iraque, especialmente o Irã e a Síria. A pauta única é os rumos da situação iraquiana.


 


 


Irã – por fim, o maior foco de tensão hoje na região. Trata-se de um duplo embate. Por um lado, os Estados Unidos e a poderosa Agência Internacional de Energia Atômica, que eles também controlam, mas que é um órgão da ONU, seguem na pressão total para que a ONU aprove sanções ao Irã pelo fato deste seguir com seu programa nuclear. A resolução do final do ano passada, em dezembro, foi branda e não impôs boicote econômico algum ao Irã por decisão da Rússia e da China. O máximo que saiu foi um prazo de 600 dias, esgotado neste final de mês, e impedimento de países exportarem componentes nucleares ao país que permitissem a fabricação de qualquer artefato nuclear. A pressão, especialmente na Rússia, para que o CS aprove uma moção e resolução mais dura é imensa. Mas há outra frente de luta contra o Irã. Os Estados Unidos começam a ventilar amplamente que esse país vem fornecendo armas e apoio logístico aos revolucionários que lutam pela libertação do Iraque e que isso vem aumentando as baixas de soldados americanos. A mídia, a serviço do projeto direitista de George Bush repercute as suas mentiras, mostrando bombas e armas de fabricação iraniana em solo iraquiano. Mas, o que é real mesmo é o aumento das tropas e forças militares estadunidenses na região do Golfo. Se já não bastasse uma das nove frotas navais americanas que fica permanentemente no Golfo Pérsico-Arábico, mais do que suficientes para atacar a qualquer momento o Irã, chegou uma segunda frota naval, sempre capitaneada por um porta-aviões nuclear. Ou seja, os americanos dobraram em 45 dias a sua capacidade ofensiva militar. Um dos mais bem informados jornalistas americano, especializado em jornalismo investigativo, Seymor Hersh, publicou na revista New Yorker, que esta nas bancas desde esta segunda-feira, uma informação inédita. Bush teria formado um GT para estudar os ataques ao Irã e que, ao seu sinal, tais ataques poderiam ocorrer em até no máximo 24 horas. Também a imprensa divulgou que Israel estava negociando com o governo do Iraque a possibilidade de se utilizar o espaço aéreo desse país, para auxiliar os Estados Unidos nos ataques às instalações nucleares iranianas, bem como a possíveis locais de concentração de guerrilheiras iraquianos na fronteira com os dois países.


 


 


Como se pode ver por esse breve resumo que ofereço aos nossos leitores, motivos não faltam para que a classificação do grau de tensão na região seja dada como excessivamente alto. De nossa parte esperamos e apoiamos sempre o lado dos povos que lutam pela sua emancipação e libertação. Manterei os leitores informados.

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