Obstáculos a um novo ciclo

O governo Lula terá que ampliar sua base de sustentação política e social. Isso não se dá de modo abrupto, automático. É um processo cotidiano, que se expressa em muitas trincheiras e em torno dos mais variados problemas que se colocam.

Lula durante encontro com a Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), no Palácio do Planalto. Ex-presidente do Uruguai, José Mujica, participou do encontro. Foto: Ricardo Stuckert/PR

A vitória de Lula nas eleições presidenciais significa o início de um novo ciclo de transformações progressistas na sociedade brasileira?

É o que desejamos. Mas, por enquanto, melhor falar em possibilidades ao invés de dizer que um ciclo novo já está estabelecido.

Preciosismo da minha parte? Creio que não.

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E não me refiro apenas à estreita margem alcançada na diferença de votos entre Lula e Bolsonaro, números da nossa vitória.

Refiro-me à correlação de forças, fator determinante do tamanho das nossas pernas. Ou seja, para que avance, o governo Lula terá que ampliar sua base de sustentação política e social.

Isso não se dá de modo abrupto, automático. É um processo cotidiano, que se expressa em muitas trincheiras e em torno dos mais variados problemas que se colocam na agenda do governo agora.

Estamos vendo como que o retorno da tributação dos combustíveis tem sido utilizado como mote para reiterada pressão do mercado financeiro no sentido de que não se altere, no essencial, a política econômica ultraliberal, incompatível com a retomada do crescimento econômico em bases sociais progressistas.

Agora são divulgados áudios contendo afirmações do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, hostis à vitória eleitoral do presidente Lula, logo após a proclamação dos resultados do pleito.

Nas circunstâncias atuais, nas quais sobretudo nos quatro anos de governo Bolsonaro, as Forças Armadas aderiram compactadas (pelo menos momentaneamente) ao ideário da extrema direita, dificilmente o presidente da República encontraria no Exército, e nas demais forças, oficiais de alta patente que não trouxessem as marcas do bolsonarismo recente.

Lula agiu corretamente ao nomear o general Tomás Paiva. 

E o general, assinala o noticiário, dá explicações aceitáveis sobre o contexto em que pronunciou palavras de desagrado em relação ao resultado do pleito presidencial.

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Na verdade, um novo ciclo se confirma ou não conforme o novo supere gradativamente o velho, que resiste de todas as formas possíveis. Até que o governo se consolide e venha efetivamente a realizar o programa com o qual Lula se comprometeu na campanha eleitoral.

O jogo é duro e exige do presidente e das forças populares e progressistas que o apoiam firmeza de propósitos e ilimitada habilidade para juntar, do mesmo lado, o mais amplo arco de correntes políticas e segmentos sociais passíveis de se unirem; neutralizar os refratários e isolar e enfraquecer os adversários.

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