O tenente-coronel Santo Antônio

O Brasil vai promover a reabilitação literária de um militar demitido há 106 anos. Trata-se de ninguém menos que Santo Antônio, nomeado tenente-coronel por Dom João VI em 1808 e reformado em 1910 pelo ministro da Guerra Dantas Barreto, por não comparecer à pagadoria do Exército para receber o soldo.

A história do santo-militar foi contada por José Carlos de Macedo Soares no livro Santo Antônio Militar no Brasil (Editora José Olímpio, 1942). Por estar tão banida das livrarias quanto o santo da tropa, a obra será reeditada pelo Ministério da Defesa como uma forma de anistia.

Nascido em Lisboa (1195) e falecido em Pádua (1231), Santo Antônio é chamado pelos nomes dessas cidades de Portugal e da Itália, mas a veneração agigantou-se no Brasil desde que os portugueses introduziram seu culto na Colônia. Curiosamente não foi um soldado, como São Sebastião ou São Martinho, mas um intelectual, doutor da Igreja Católica. Protetor dos pobres, mas invocado pelo povo para atender a todas as causas e graças, passou também a ser chamado a proteger exércitos em batalhas, recebendo títulos militares na Espanha e Portugal, onde já em 1668 foi recrutado para assentar praça num regimento de Infantaria.

A tradição veio para o Brasil e no século XVII a fé na vitória foi depositada em Santo Antônio para a guerra contra os holandeses que invadiram o Nordeste. Com a vinda da família real, Dom João VI nomeou-o sargento-mor e o promoveu a tenente-coronel. Os soldos foram pagos à Igreja até que Dantas Barreto, adepto do racionalismo positivista, convocou-o para provar sua existência e, como esse milagre o santo não fez, terminou demitido.

Se recebia devoção geral, como poderia um santo universal tomar partido numa guerra? Dessa questão ocupou-se o padre Antônio Vieira ao explicar que as guerras são travadas contra infiéis, e “aos infiéis o levava seu espírito, porque era espírito português. Aos católicos, a paz, mas aos infiéis, a perpétua guerra.”

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