O setor primário salvou a Balança Comercial

Costumo repetir que a beleza dos números, especialmente os de natureza estatística, reside no fato de que se pode emprestar a eles qualquer análise. O mesmo número pode ser usado tanto para “sustentar” quanto para “desmontar” determinado ponto de vista ou

Os dados da balança comercial, relativos ao primeiro semestre de 2007, estão nesta categoria. O Brasil exportou 73 bilhões e importou 52 bilhões, resultando num saldo de nada menos do que 21 bilhões de dólares. O valor, expressivo, mereceu elogios até mesmo de críticos da política econômica do governo e euforia generalizada na equipe do presidente Lula, especialmente dos defensores da ortodoxia em curso.


 


 



Não sei se a euforia é por ignorância ou má fé, pois os dados não resistem a uma análise por mais superficial que seja quando se decompõe os resultados.


 



Do valor total das exportações o setor primário respondeu por 27 bilhões e os demais setores por 46 bilhões, totalizando 73 bilhões de dólares. Ampla vantagem para o setor industrial e de serviços.


 



Porém, quando se analisa as importações, a situação se inverte. O setor primário importou apenas quatro bilhões, acumulando um saldo de 23 bilhões de dólares, enquanto os demais setores, incluindo a indústria, importaram 48 bilhões e acumularam um déficit de dois bilhões de dólares.


 



O saldo da balança comercial foi exclusivamente bancado pelo setor primário. O desempenho poderia até ser mais exuberante, se não fosse o forte crescimento da importação de trigo e borracha, produto que no século passado figurou como um dos principais itens da nossa pauta de exportação.


 



O mais grave, porém, é que em 2007 o conjunto das exportações cresceu 20%, em relação a 2006, enquanto as importações aumentaram 27%. De forma isolada o setor primário respondeu por um crescimento de 25% nas exportações e por 34% nas importações. Os outros setores exportaram 17% a mais e importaram 26% a mais em relação ao período anterior.


 



Nesse ritmo, com as exportações percentualmente reduzindo e a importação crescendo, chegará o momento em que nem mesmo o exuberante setor primário será capaz de assegurar esse saldo na balança comercial.

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