O que restou das manifestações da juventude de 2013 no Brasil?

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As marchas de 2013 foram um dos episódios da “Primavera da Guerra Híbrida”, que começou nos países árabes e se espalhou pelo mundo, aproveitando-se de um justo sentimento da juventude, que não encontrava espaço no nosso projeto de Brasil. 

Essa percepção ocorria a despeito dos avanços dos governos de Lula e Dilma. Problemas estruturais no ciclo mudancista latino-americano não deram conta de desafios econômicos centrais para a plena incorporação da juventude no projeto nacional de desenvolvimento, em articulação com a economia mundial e a partir das características da nossa América Latina. Foram eles, a mim me parece:

1) A desindustrialização associada ao extrativismo e à ditadura do capital especulativo-financeiro-rentístico;

2) As baixas taxas de crescimento e a involução das economias que se primarizam, ou ampliam sua dependência das commodities, com exponencial passivo ambiental, privatizações, grandes oligopólios financeiros a se apropriarem das empresas públicas em favor de interesses privados rentísticos e de curto prazo;

3) A Juventude teve ampliado seu acesso aos bens de consumo, à cultura digital, à internet e aos smartfones, mas persiste sendo desde então o maior percentual etário da população que acumula os mais graves indicadores sociais: Informalidade, precariedade, superexploração, evasão escolar, ausência de acesso à internet e aos equipamentos de informática, falta de aposentadoria, de casa própria, sem assistência à saúde e com falta de trabalho decente;

4) A Juventude também não teve acesso a uma nova política de Reforma Agrária, ampliando-se os efeitos da não consecução da sucessão rural na agricultura familiar, o que em perspectiva compromete a nossa soberania alimentar e nacional.

5) A notável ampliação do acesso à educação entre 2003 e 2014, inclusive no Ensino Superior para a população trabalhadora, com a ampliação do ensino técnico e da Pós-graduação. Mas não bastou, sem desenvolvimento.

6) A persistência de chagas de nossa formação que vem ainda do escravismo, mas se renovam, como o racismo, e a violência contra as mulheres e contra as pessoas LGBTQ.

O que houve depois foi esse apocalipse golpista-bolsonarista-guerra híbrida-entreguista-misógino-transfóbico-covid-fundamentalista-negacionista e genocida . Ou seja, o que tava muito ruim lá em 2013, piorou em proporções brasileiras.

A destruição da economia em seus setores mais dinâmicos pela Lava-jato a mando dos EUA, o monopólio nas comunicações em mão oligárquicas e do setor financeiro, o desmonte das instituições nacionais, MEC, Universidades, Pesquisa CeT e a Pandemia/Bolsonaro, causando uma verdadeira tragédia na nossa geração, que a gente ainda não mediu, mas dá pra ver em cada Uber, em cada entrega, em cada jovem sem emprego, sem escola, sem perspectiva. E nossos filhos e filhas perpetuarão esse desalento. 

Assim, precisamos reagir e assumir um lugar de protagonismo e de responsabilidade na condução desse enredo que se mostra macabro. Era inimaginável que chegaríamos tão no fundo do poço. E a nossa derrota em conduzir aquele processo social nos trouxe até aqui. Não podemos ter soberba. Não foi uma atuação exemplar. Quem é derrotado, se não souber o por quê disso ter acontecido, vencerá?

Para a juventude brasileira, retomar o projeto nacional de desenvolvimento é uma opção entre a vida e a morte. Diante do que houve nos últimos 9 anos, estamos arriscados a ter a perda de uma geração. É a mesma crise do meio ambiente, da violência, das desilusões do consumo e do capitalismo, é o desperdício da nossa vida, da nossa juventude.

Esse fenômeno ocorreu em paralelo à destruição do movimento sindical e da CLT, da crise econômica mais assustadora desde os anos 80. Desse modo, galera, as soluções do passado parece que não deram certo, não. A impressão que eu tenho é de um grande envelhecimento geracional, infelizmente, e de um grande empobrecimento e desespero da juventude brasileira que não vê futuro no Brasil nem tem esperanças.

Isso, gente, é PROJETO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO. O projeto da direita, do neoliberalismo, do rentismo, da direita é esse que estamos vivendo. Eles conseguiram em 2013 polarizar um movimento que poderia ter ajudado a mudar o país, mas como a Lava a Jato, foi manipulado para destruir o nosso próprio país.

E agora, é a nossa juventude que ocupa as UTIs do Brasil, que se tornou uma ameaça à vida e à saúde, foi isso que a direita e os rentistas, junto com os EUA, fizeram ao Brasil. Morreram de capitalismo centenas de milhares, e até quando?

Sem lugar para juventude no Projeto nacional, no movimento sindical e na política será impossível salvar o nosso Brasil. 

Um sindicalismo de base com a juventude é mais necessário que nunca, que chegue aos precarizados, que se abra democraticamente à base, fugindo do isolamento das bases quando se impõe o distanciamento social. Mais do que nunca precisamos do diálogo com as bases, a juventude e os estudantes para construir o Brasil em que a juventude tenha futuro, em vez de ser abandonada, assassinada, discriminada e violentada todos os dias. Não podemos concordar com o Brasil do ferro gusa, da soja e do desmatamento…

A juventude e os adultos de hoje podem alavancar o desenvolvimento, ou será a nossa vida o perpetuar da tragédia, doravante. A juventude é a saída para reesperançar o Brasil. Falar às bases, reorganizar o povo, reocupar os espaços da democracia, unir o povo, tudo isso precisa da nossa juventude como protagonista do seu próprio futuro. A UJS não pode ser só estudante. A CTB não pode ser só a direção do Sindicato. Estudantes, jovens e trabalhadores(as), com a cara do nosso povo, esse deve ser o presente do nosso movimento se quisermos que ele tenha futuro. E por saber que o capitalismo não pode nos dar nem a democracia, nem a soberania nem o futuro que sonhamos, sei que o futuro brilhante para o Brasil e sua Juventude, é o Socialismo.

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