O que esperar da equipe de (des)governo

Na medida em que são anunciados os nomes que irão compor a equipe de governo do presidente eleito em 28 de outubro, evidenciam-se as características predominantes dos que responderão pelos destinos do país a partir de primeiro de janeiro de 2019: arrogância e, em muitos casos, um completo despreparo diante de questões fundamentais afeitas às respectivas pastas.

Pronunciamentos de alguns dos futuros ocupantes do primeiro escalão do novo governo são dignos de entrar para o anedotário. Como exemplo, bastaria citar a fala do escolhido para ocupar o cargo de chanceler ao explicitar sua pretensão de estabelecer uma cruzada contra o “marxismo cultural” que, segundo seu entendimento, é o sustentáculo do “globalismo”, este sim, o grande inimigo de Deus, da pátria e da família.

Acontece que o próximo ocupante do Itamaraty não está sozinho. A seu lado estão o futuro ministro da ciência e tecnologia que já avisou que não dará trégua “aos inimigos internos e externos” embora nada tenha dito sobre como pretende fomentar a pesquisa científica no país.
Ambos bem acompanhados pelo “superministro” da área econômica que parece desconhecer informações básicas como por exemplo, a de que o orçamento federal de um ano é estabelecido no ano anterior.

Por essas e por outras o próximo governo, agora no período de transição vem ocupando as manchetes nacionais e internacionais. Lá fora, em muitos países, além da indignação causada por declarações do futuro presidente, o que se vê também é que o Brasil tornou-se motivo de piada.

Porém, por mais que alguns dos futuros componentes da equipe de governo ainda sejam incógnitas em termos de preparo para exercer tão importantes funções, o certo é que, não duvidemos, eles mostrarão uma competência singular para implantar um projeto de governo que já mostrou claramente , desde o período eleitoral, o seu caráter entreguista em relação às riquezas do país e sua obsessão com o desmonte de direitos.

Assim como o presidente eleito, seus ministros já demonstraram não ter qualquer preocupação com o ridículo ou com a incoerência. A votação obtida pelo futuro mandatário já deu mostras de que o desconhecimento técnico e a incompetência política são aspectos irrelevantes diante do discurso de ódio que prometeu varrer do mapa, segundo suas próprias palavras , todos aqueles que passaram a ser identificados como inimigos .

Desse modo, é preciso cuidado pois a simples ridicularização de falas e posturas adotadas por alguns dos indicados a compor a futura equipe de governo pode esconder o teor retrógrado de tais posicionamentos.

É bom que não nos esqueçamos de que este que foi eleito presidente no ultimo dia 28 de outubro passou mais de um quarto de século atuando como deputado federal e, por inúmeras vezes, ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados proferindo os mesmos absurdos que iriam se tornar sua plataforma de campanha à presidência da república e que lhe dariam a vitória . Suas apologias à ditadura, o enaltecimento de torturadores, sua misoginia, homofobia e racismo eram vistos como um exotismo, uma excentricidade entre tantas outras que já haviam passado por aquela casa parlamentar. O despropósito de seus pronunciamentos eram ignorados ou ridicularizados e poucas vezes denunciados como aquilo que realmente eram: uma ameaça à democracia e, como tal, jamais poderiam ser banalizados.

As forças do campo democrático não podem incorrer no mesmo erro em relação ao próximo governo e sua equipe, uma vez que, encoberto por colocações aparentemente descuidadas e fora de contexto, está um projeto nocivo ao Brasil e a seu povo e é isto que deve ser diuturnamente denunciado.

Não esperemos do próximo governo e sua equipe um compromisso com a coerência ou a preocupação com padrões civilizados de governança. Eles sabem muito bem a que vieram e quais interesses representam e a denúncia dessa barbárie deve ser uma das prioridades de nossa resistência .

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