O Massacre de Hadhita

Há cerca de dois anos, explodiu a denúncia de que soldados americanos praticavam atos de sevícias e torturas contra presos políticos iraquianos na prisão de Abu Grhaib, em Bagdá. Apesar do abalo na popularidade do pr

Desta vez, o escândalo assume proporções muito maiores. Se na prisão, apesar das torturas nenhum preso havia sido morto, na pequena cidade à Sudoeste do Iraque, na província de Ânbar, chamada Haditha, civis desarmados foram brutalmente assassinados por marines, que agiam em suposta retaliação a uma ação armada de membros da resistência. E quem afirma isso não é a oposição ao regime colaboracionista, mas exatamente altos oficiais americanos, do exército estadunidense, que realizaram um inquérito militar para apurar os episódios.
Os detalhes do massacre
           
O dia preciso era 19 de novembro de 2005. O horário era sete da manhã desse dia. Em um determinado momento, o cabo Miguel Terrazas tombou abatido por uma emboscada da resistência iraquiana. O carro Humvee, uma espécie de jipe imenso de uso militar, havia sido atacado. Com o moral abatido, mas cheio de ódio, o destacamento militar do exército americano resolveu revidar. E o fez aleatoriamente. Partiu para a agressão desenfreada, atacando casas da população civil indistintamente, para vingar o soldado abatido.
           
O massacre durou cinco horas seguidas. A matança encerrou-se por volta do meio dia. A contabilidade – oficial, claro – apurou a matança de 24 civis, na sua maioria mulheres, velhos e até crianças. O inquérito instaurado, foi presidido pelo general Eldon Bargewell. E as conclusões são estarrecedoras: a maioria dos mortos, foi por tiros a curta distância, à queima roupa e o pior: disparados nas costas, na nuca e na cabeça.
           
Famílias inteiras foram abatidas e dezenas ficaram feridas. Na casa da família Khatif, por exemplo, suas cinco filhas foram assassinadas. E tinham idades de 14, 10, 5, 3 e uma de apenas um aninho! Sim, isso mesmo, mataram um bebê de apenas um ano de idade. Outro bebê, com apenas cinco meses só não foi massacrado, na casa do vizinho, pelo fato que uma tia, ferida à bala, caiu sob a criança, fingiu-se de morta para protegê-la, ficando imóvel várias horas seguidas.
           
Os soldados agiram como psicopatas. Alguns especialistas falam que a situação vai ficando cada vez mais explosiva. As licenças são canceladas o prazo limite para ficar em combate – em torno de seis meses – vem sendo sucessivamente prorrogados, pela falta de soldados e de reservistas e a ação da guerrilha da resistência vem infringindo baixas cada vez maiores e mais espetaculares nos soldados da ocupação. Por isso, muitas vezes as reações acabam sendo como se fossem psicopatas, paranóicos, loucos mesmos. Fontes do próprio exército americano, falam que os marines “sofreram um total colapso da moralidade e na liderança”.
           
A reação do Pentágono foi de um suposto espanto, como se a orientação dada aos soldados fosse para tratar bem os iraquianos, o povo árabe do Iraque. Falaram até em ministrar aulas para os soldados sobre direitos humanos. Mas, nunca esconderam que a pequenina cidade de Haditha tem sido uma espécie de centro da resistência da luta dos iraquianos pela libertação de seu povo da dominação imperialista.
           
O número total de mortos ainda é um assunto em aberto. Um dos principais jornais da resistência, o Mafkarat Al Islam, fala em pelo menos 31. Outras fontes falam em até 90 vítimas. Neste caso do massacre, os próprios soldados agressores e carrascos, filmaram seus atos de carnificina, fotografaram várias mortes. Isso acabou sendo usado na documentação contra eles próprios.
           
O modus operandi dos soldados foi também descoberto e desbaratado: ao perceberem que mataram um civil qualquer, que nada tem a ver com a resistência, imediatamente jogam ao lado de seu corpo uma metralhadora AK-47, usada pela resistência, para tentar transparecer que ele fora morto em combate, como que para tentar justificar o assassinato de um civil.
           
A verdade é que os casos de má conduta, de brutalidade praticada pelas forças de ocupação no Iraque vão se ampliando a cada dia. Novas denúncias vão surgindo e confirma-se que tais atos não são uma exceção, mas vão se tornando uma regra de conduta dos soldados, cada vez mais brutais e violentos contra a população do país que ocupam.
           
Também se constatou que os militares americanos tentaram dar um “cala boca” entre as família dos mortos. O exército americano pagou o que chamam de “compensações”, em valores da ordem de 38 mil dólares, como se essa esmola pagasse a vida das crianças, velhos e mulheres assassinadas.
Haditha: o My Lai iraquiano?
           
Outros massacres foram cometidos por forças ocupantes contra populações locais. A história recente registra vários deles. Os mais famosos foram o de quase três mil palestinos, nos acampamentos de Sabra e Shatila, em 19 de setembro de 1982, praticados por forças de direita, falangistas cristãos libaneses, sob os olhos do exército israelense, que ocupava o sul do Líbano, sob o comando do então general Ariel Sharon. Tivemos os estupradores do exército na Tchetchênia, conhecemos o famoso Domingo Sangrento na Irlanda, bem como as valas comuns dos mortos na guerra de libertação da Argélia no início da década de 1960. Nada explica a violência contra civis desarmada. Os soldados ocupantes sentem-se poderosos, fortes, indestrutíveis e por isso praticam brutalidades e violência contra os mais fracos. Sua ação não tem limites (1).
           
O massacre mais famoso, entre tantos registrados na história, no entanto, foi um ocorrido em 1968, no auge da guerra do Vietnã. A pequenina cidade de My Lai, foi invadida pelos marines americanos. Massacraram 300 moradores da pacata cidade. Todos desarmados. As comparações foram imediatas. Muitos analistas disseram que esse massacre de Haditha poderia ser o My Lai do Iraque.
Desdobramentos
           
O ocorrido na pequenina Haditha é apenas mais um entre tantos outros fatos e ocorrências, que vão se avolumando. Nada justifica o erro original da invasão e da ocupação em 2003, baseados em várias mentiras contatas aos americanos e ao mundo pelo presidente dos EUA. A popularidade de George W. Bush atinge o pior nível desde que as pesquisas de opinião são feitas nos Estados Unidos desde a década de 1940. Bush não tem a aprovação de mais de 23% dos americanos.
           
Setores do próprio Partido Republicano já pedem a saída imediata das tropas. O mais famoso deles é o deputado John Murtha, ele mesmo ex-combatente do Vietnã e de extrema direita. Murtha condenou com veemência a carnificina de Haditha e reforçou o pedido para trazer as tropas de volta. Em tom claro ele diz “chegou a hora da retirada”, disse o deputado (2).
           
Cresce a cada dia o isolamento político dos EUA. Não se pode arriscar uma data da saída das tropas. A Itália, este mês, retira metade de seus soldados e até o final do ano o restante. O Japão também anunciou a sua retirada. A resistência aumenta a cada dia os seus ataques. A farsa do “novo” governo vai ficando cada dia mais claro. O primeiro ministro Nuri Al Maliki é apenas e tão somente um testa de ferro estadunidense.
           
Mais dia menos dia, temos a convicção de que os iraquianos vencerão e retomarão o governo para as suas mãos e expulsarão os americanos de suas terras. E isso ocorrerá em breve.
Nota
(1) Para isso ver excelente artigo do jornalista Robert Fisk, do The Independent inglês, publicado na Folha S.P. no último dia 3 de junho de 2006, no caderno Mundo, sob o título “Quem sabe que horrores já foram cometidos?”.
(2) Ver matéria intitulada “Tentaram encobrir a chacina de Hadhita”, publicada no Jornal Hora do Povo, de autoria de Nathaniel Braia, no dia 2 de junho de 2006, página 6.

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