O documentário original – Governo Lula se afirmou

A televisão hoje tem à disposição um enorme aparato técnico e, por exemplo, essas sete horas de apresentação de imagens, se botar um título e retirar os anúncios, teremos um documentário original e totalmente autêntico desse episódio da História do Brasil.

Reação forte dos representantes dos poderes da República expressa unidade ampla contra o golpismo Foto: Ricardo Stuckert / Fotos Públicas

Passei cerca de sete horas nesse domingo acompanhando a cobertura pela GloboNews da tentativa de golpe dos bolsonaristas. É difícil acreditar que o Governo Lula tenha conseguido vencer essa tentativa totalmente criada e apoiada pelo governo do Distrito Federal bolsonarista. O governador de Brasília já tentou se esconder, mas nada foi tão claro quanto ele, de acordo com o chefe Bolsonaro lá dele, preparou e não conseguiu tudo que queria, embora tenha feito esse ato de vandalismo que foi destruir os prédios do Planalto, do STF e do Congresso. O ato que essas pessoas fizeram mostra que elas são do mesmo nível mental do chefe deles Bolsonaro. Destruir uma galeria de fotos, como a de ex-Presidentes, é um ato demonstrativo da pobreza mental que une o chefe e os vândalos. É terrível ver como uma parcela enorme da população brasileira é formada por pessoas intoxicadas.

Quando digo que o Governo Lula se afirmou é porque foi grandioso ter sobrevivido a essa trama. Mas temos que ver que o Governo Lula tem muitas fraquezas e inclusive é um governo de uma amplitude difícil. Não é um governo de esquerda. Não é um governo do PT. É um governo de amplitude com pessoas que pensam de várias formas, e que se unem pela ação democrática. José Múcio Monteiro, pernambucano de centro-direita, tem que ser muito hábil, e eu gostaria de saber o que foi conseguido na reunião acontecida no sábado com os chefes militares do Exército e os Ministros Múcio, Dino e Rui Costa. Ficaremos sabendo com o que acontecer nos próximos dias.

Leia também: Encontro de todos os poderes e 27 governadores reafirma força da democracia no Brasil

Eu temo por Lula. É realmente a maior liderança popular no Brasil. E corre um grande risco, pois tudo demonstra que esses bolsonaristas continuarão a agir. Inclusive têm, sem dúvida, apoios fortes e não só no Brasil, mas através de grupos direitistas radicais, como o que existe em Israel. O mundo hoje já não é dividido entre capitalistas e socialistas como no tempo da URSS. Hoje estamos num mundo composto de democratas e alguns grupos radicais que parecem viver do vandalismo. A televisão hoje tem à disposição um enorme aparato técnico e, por exemplo, essas sete horas de apresentação de imagens, se botar um título e retirar os anúncios, teremos um documentário original e totalmente autêntico desse episódio da História do Brasil.

Olinda, 09. 01. 23 (data em que a matéria foi escrita)

O casal Straub desaparece e continua

Abri (maneira de dizer, pois na internet livros e revistas já ficam abertos naturalmente) o número de janeiro 23 do “Cahiers du Cinéma”, e a capa já trazia (traz) foto com a notícia de uma retrospectiva em Paris – Cinématèque Nationale – dos filmes do casal Jean-Marie Straub e Danièle Huillet. E lendo o editorial da revista escrito por Marcos Uzal (que é o atual editor da revista) é que tomei conhecimento da morte de Straub em novembro passado. O Marcos Uzal, apesar do cargo de editor da revista e de sua inegável competência, é um jovem cinéfilo e inclusive confessa que até há pouco nunca tinha visto um filme feito pela dupla. Daniele Huilet morreu em 2006.

Para mim, Straub e Huillet é uma velha dupla que conheci e da qual vi alguns filmes, me parece que já nos anos 60 ou 70. E me recordo uma vez, que num Festival no Rio de Janeiro, comecei a ver o filme sobre Anna Magdalena Bach e terminei (coisa que não costumo fazer) saindo no meio, pois o diálogo, a narrativa, era em alemão e eu já estava cansado de ver muitos filmes no memo dia. Depois me arrependi dessa decisão, mas acredito que foi pelo cansaço. Vi esse filme depois. Straub fez muitos filmes na Itália e vi alguns. Sua maneira de criar a narrativa cinematográfica é uma das mais expressivas sem dúvida do cinema. Straub fazia com que o filme caminhasse quase como se não fosse cinema, mas uma simples conversa entre conhecidos.

Bom morar em Paris, pois lá você tem essas oportunidades excepcionais, como rever e degustar uma filmografia completa num mesmo período.

Olinda, 02. 01. 23

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor